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terça-feira, 2 de maio de 2017


A carta de despedida


Entoando os gestos, passeio
O chão das ruas são peles duras ao floreio de um poeta
Prefiro a tua que vibra sementes e perfuma todo mês de fevereiro,
Mas faz tempo que tu não vens...
O meu mapa astral tem a lua em peixes e a cauda do dragão em aquário,
O que não significa nada nesse oceano inteiro que eu me afogo,
Faço-me peixe morto na intenção das nascentes,
Nasceram flores mortas na maternidade da vida enfeitam a desdita, os jardins choraram água de cheiro,
Tenho vasos pendentes na varanda, rosas verdes de plástico de garrafas recicláveis,
Viro o calendário para o mês que passou, visualizar lembranças, saudades do amor,
A bruxa passou voando a vassoura espectral, o corvo agourou o final dos tempos
Depois do dilúvio veio o sol, meio dourado, fantasiando as cores esmaecidas da dor,
Aspirei o meu quarto mofado de velhas poesias, todas, as quais tu não leste
O ópio levou a tarde para dentro da minha barriga, viagens secretas nos desconfortos da decepção,
Arrisco frases sigilosas escritas na mente, algo sem nexo, pois o papel não aceita os versos desta canção
Estou absurdamente estranho cantando sozinho, perguntas na ponta da língua,
A língua no universo da flor lambendo as respostas,
Pus cartas de tarô e o louco enamorado riu de mim,
Só frases postas ao léu, desordenadamente, como desejando me confundir,
Ainda cabe-me o toque nas ausências tardias, falsa ilusão de amor,
Essências escorridas das fotografias, velhas amigas, histórias migrando de dentro para fora da solidão
A carta de despedida esperada, que nunca veio

Charles Burck



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