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terça-feira, 23 de outubro de 2018


Horas, após horas, é só contar o tempo
Se souberes como contornar o cais, há um mar azul, brotando de tempos maiores, enredos desenhados a dedos agradecidos, do tatear de uma história contada ao ouvido, pelo vento
Eu sei, da tua fonte que jorra
Pois não hei de morrer de morte morrida,
Mas de coração matado de tantos sorrisos
Teus
Há tanto prazer nisso, que não hei de morrer
Jamais



                                                                      Charles Burck




Nesse diário há mil rabiscos de compaixões, algumas com olhos meigos
Estendendo-me os braços como quem soubessem tudo de mim
Eu poderia apagar tantas recordações, ou rasgar folha por folha, porém, sem jamais negar-me
Contudo a insaciável sede de conhecer-me pede mais,
Mas o silêncio é certo, as há silêncios demais, e escrevo para me ouvir falar,
 Por isso escrevo, engolindo a solidão
não estou só, há litorais acolhendo ventos, há o amor, pássaros alusivos às antigas histórias  quando todas as mulheres tinham em mãos, as maçãs
e as raízes se juntavam penetrando os corpos nus
 Porém trago as minhas mãos vazias.
Estranho para quem passou a vida esperando,
Não querer tocar outras mãos
Apressa-te pois, as primaveras não esperam as flores tardias,
Não demora então, a saudade é uma boca imensa engolido tudo,
As pálpebras, os olhos, o olhar, o mar, a estrela caída, o constelação,
 a infância o muro, a pena, o pássaro
O diário, as folhas
E quando perguntares por mim, dirá, que eu já me fui

Charles Burck





The Silence - Edward Miller 




Tenho dias de sobras para as esperas, todos,
Tenho dias de sobras para o coração brotar de novo
Tenho dias de aprende a ver as essências
Quando eu acreditava que podia amar inserindo no coração somente palavras,
Mas eram apenas como arranhar a superfície da noite,
Sem poder atravessar as suas espessuras,
Eu queria sim dispor dos sentidos, mas acreditava poder fazer isso sozinho
Mas tudo crescia fora de alcance no meu próprio desejo,
E os pensamentos arrumavam os argumentos de dar luz à vida,
Uma canção que só conhecia os tons que tu me cantavas
E eu abria o peito ao que me era mais urgente
Era preciso amar de novo,
Mas há dias que são assim, dias dentro de dia nenhum
E então acredito que preciso tanto responder ao silêncio,
E te dizer que eu sempre te amarei ainda que não me ames
E virás assim sempre quando eu te chamar, mesmo quando não te chame
E ainda que não me respondas, eu sempre te falarei,
E saberás mesmo quando não me olhes,
Com quantas saudades
Eu te olho


Charles Burck







Sozinho

É trágico o cansado para quem dorme sozinho e os traços das ruínas perdem-se nas cores da cama,
Ainda que sendo abstratas, a tradução do repouso serão sempre cansaços
Nos deslizes do corpo a ideia que há outro corpo juntado,
E decairão das vigas do teto os encaixes pousados,
As asas diuturnas dos sexos não dados
Pensar num clarão das almas vazantes, dos gozos fantasmas, dos membros pulsantes,
Das asas sem onde pousarem
E entre parênteses ficaram os sinais dos gemidos nos sonhos
a quintessência do desejo vazio
Os contrastes das janelas em volta, que gritam em debochadas sonoras batidas
Dos músculos e dos ossos
Das peles, que se roçam em atritos pungentes,
Os alívios dos seres sem penas dos que ouvem,
as lambidas que doem em seus ventres, as línguas que lhes saltam das bocas
A dor do poder de sonhar, enquanto se lambuzam sem ter,
Quem possa colher os seus beijos inúteis,
A vergonha sabe as verdades de seus discípulos
E antes lhes ensina que não há vergonha absoluta
E a vergonha maior é a perda de si,
O rito do corpo não se sustenta sem sonhos
Sobreviver além de tudo
Sobreviver é um atributo aos que sonham
Aos que riem sozinhos, aos que limpam com seu olhos as gotas de orvalhos,
Aos que se enterram, mas para buscar no submundo o espírito que brilha,
Antecipando ao som, faz dos gemidos da morte, uma canção de vida

Charles Burck 





domingo, 21 de outubro de 2018



Ao azul que pintei toda uma vida, recolhi ao que te conheci
deixei um tanto de tinta cair sobre o papel
O amor escrito em imagens, porque as palavras me levastes
E nas tuas mãos que tateiam me deixei ficar, menino ainda quando o homem pendeu, poeta ainda no meio do poema...

Charles Burck




É por ti que escrevo e quando chegam as lágrimas, é porque a alma me vem aos olhos para ver-te mais de perto.

Charles Burck





© by Karin RosenthaL

As borboletas


E se eu e ela tivéssemos vidas como as borboletas eu voaria com ela, por sobre os mares que cantamos em poemas,
e se eu pudesse escolher, abriria mão dos ventos, para viver eternidades pousado no peito dela
E borboleta não seria mais, porque as minhas asas atrofiariam,
e se pudesse escolher ainda mais onde morrer, abrira mão do mar, porque deitado sobre ela eu teria os mares todos,
e as vidas todas para ouvi-la marear os mares que deixei
E seria eu apenas felicidade a formar redemoinhos, mansos à volta dela
E se as borboletas soubessem de nós viriam também abrir mãos dos voos,
E pousariam sobre o peito dela
E saberiam todas como é, estando sobre o amor, amar


Charles Burck