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terça-feira, 16 de maio de 2017



 Imagem : Ricardo Celma 
Porque eu careço de um terço, de um par de asas, um pouco de amor, de um infinito
A cotovia voa e volteia, seus olhos cravados em mim, me tonteiam
O cravo nos olhos dela são rosas pousadas na minha janela, enfeitando o dia
Com dez quilos de insônia vagueio sem saber ser, cotovia,
Sento na cerca, preciso de distração para o que me tira o sonho, um papo com os mortos,
Quem sabe me ensinem a dormir,
Suco de melancia com limão, um pouco de carvão macerado - Serão os mortos um estado de espírito?
A dor nas costas que sufoca é real, o médico holista me diz para beijar,
Se tiver uma boa mulher que se sente sobre as costas, melhora,
Mas há os riscos, os efeitos colaterais - Mas como determinar a medida de cada coisa?
Antes preciso de amor...
Poder voar é simples, ter o infinito não...
Por isso te chamo, vizinha
Sempre que te avizinhas ao olhar sobre a cerca,
Sabemos dividir o quintal, as frutas frescas dos galhos que invadem sem entender de limites,
O cheiro do mato não sabe das cercanias do infinito por isso chega ao teu quarto
E afasta o meu instinto de tentar tudo compreender
Luz não combate as sombras, ela é necessária, mas define espaços, preenche vazios,
Não interfiro na sua vida, não incomodo seus atos, mas admiro quando soltas os cabelos,
Quando molhas as plantas, quando o vento abre as cortinas e a tua silhueta nua, por um momento, sai da penumbra e se torna claridade
Quando me acolheu a cabeça naquele dia e chorei
Muito além do gozo intermitente não dei razão à fome,
Talvez matasse magia entre os dentes e perder-se-ia o mais, o traço do belo
E eu bem queria dizer mais nesse contexto todo, faltam-me as palavras certas,
Talvez tenha perdido o dom, aos que me chego mais perto de ti,
Deixemos que o tempo suspire, esvazie o peito e que de alguma forma explique as coisas que eu não consigo


Charles Burck


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