Imagem : Ricardo Celma
Porque eu careço de
um terço, de um par de asas, um pouco de amor, de um infinito
A cotovia voa e volteia, seus olhos cravados em mim, me
tonteiam
O cravo nos olhos dela são rosas pousadas na minha
janela, enfeitando o dia
Com dez quilos de insônia vagueio sem saber ser, cotovia,
Sento na cerca, preciso de distração para o que me tira o
sonho, um papo com os mortos,
Quem sabe me ensinem a dormir,
Suco de melancia com limão, um pouco de carvão macerado -
Serão os mortos um estado de espírito?
A dor nas costas que sufoca é real, o médico holista me
diz para beijar,
Se tiver uma boa mulher que se sente sobre as costas,
melhora,
Mas há os riscos, os efeitos colaterais - Mas como
determinar a medida de cada coisa?
Antes preciso de amor...
Poder voar é simples, ter o infinito não...
Por isso te chamo, vizinha
Sempre que te avizinhas ao olhar sobre a cerca,
Sabemos dividir o quintal, as frutas frescas dos galhos
que invadem sem entender de limites,
O cheiro do mato não sabe das cercanias do infinito por
isso chega ao teu quarto
E afasta o meu instinto de tentar tudo compreender
Luz não combate as sombras, ela é necessária, mas define
espaços, preenche vazios,
Não interfiro na sua vida, não incomodo seus atos, mas
admiro quando soltas os cabelos,
Quando molhas as plantas, quando o vento abre as cortinas
e a tua silhueta nua, por um momento, sai da penumbra e se torna claridade
Quando me acolheu a cabeça naquele dia e chorei
Muito além do gozo intermitente não dei razão à fome,
Talvez matasse magia entre os dentes e perder-se-ia o
mais, o traço do belo
E eu bem queria dizer mais nesse contexto todo, faltam-me
as palavras certas,
Talvez tenha perdido o dom, aos que me chego mais perto
de ti,
Deixemos que o tempo suspire, esvazie o peito e que de
alguma forma explique as coisas que eu não consigo
Charles Burck
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