by Isaac Maimond
Folhação
E com o silêncio vieram as
vozes intermitentes da memória
Refazendo a minha
impessoalidade com nome definido impregnando-me a pele,
Somos sim um pouco de cada
outro,
Dos que se foram, dos que
ficaram, do que estão, dos que não voltam.
As cores das vozes a nos
dizerem de cada ser,
Descerram as faces, os olhares,
o verbo das graves entonações,
Das suaves canduras das manhãs
aos sortilégios das tarde,
Somos todos amanheceres,
cálidas chuvas, às vezes tempestades, às vezes anoiteceres
O barro, a massa do trigo,
justapostas, entremeadas à boca ávida da vida
A mesa posta, o menino vivo,
outros tantos sepultados,
O livro dos escritos dos mortos
com folhas ao vento,
O pai agradece ao filho o
prosseguimento da vida,
O voo livre das asas
florescendo nos céus,
A arvore podada para frutificar
mais vezes,
A seiva a elaborar sua copa e
suas raízes que penetra os céus e a terra
A fórmula da idade decomposta
em insondáveis matemáticas,
Aos que quedaram aos
esquecimentos, deito o ouvido na praia e ouço seus cânticos,
Não há como sepultar suas
histórias vivas em mim,
Eu de silêncio visto-me de
branco a me perder pelas tardes,
O sorriso dos vivos dando vida
aos seus lábios,
O encontro do que não digo com
o versejar da palavra escapada,
A força que acelera o grito, os
traços, a fisionomia da face,
A textura da pele, o gesto
repetido na forma de caminhar,
Somos tantos filhos nesse mundo
perdido e, no entanto, tão pouco sabemos de nós.
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