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quarta-feira, 3 de maio de 2017


by Isaac Maimond

Folhação





E com o silêncio vieram as vozes intermitentes da memória
Refazendo a minha impessoalidade com nome definido impregnando-me a pele,
Somos sim um pouco de cada outro,
Dos que se foram, dos que ficaram, do que estão, dos que não voltam.
As cores das vozes a nos dizerem de cada ser,
Descerram as faces, os olhares, o verbo das graves entonações,
Das suaves canduras das manhãs aos sortilégios das tarde,
Somos todos amanheceres, cálidas chuvas, às vezes tempestades, às vezes anoiteceres
O barro, a massa do trigo, justapostas, entremeadas à boca ávida da vida
A mesa posta, o menino vivo, outros tantos sepultados,
O livro dos escritos dos mortos com folhas ao vento,
O pai agradece ao filho o prosseguimento da vida,
O voo livre das asas florescendo nos céus,
A arvore podada para frutificar mais vezes,
A seiva a elaborar sua copa e suas raízes que penetra os céus e a terra
A fórmula da idade decomposta em insondáveis matemáticas,
Aos que quedaram aos esquecimentos, deito o ouvido na praia e ouço seus cânticos,
Não há como sepultar suas histórias vivas em mim,
Eu de silêncio visto-me de branco a me perder pelas tardes,
O sorriso dos vivos dando vida aos seus lábios,
O encontro do que não digo com o versejar da palavra escapada,
A força que acelera o grito, os traços, a fisionomia da face,
A textura da pele, o gesto repetido na forma de caminhar,
Somos tantos filhos nesse mundo perdido e, no entanto, tão pouco sabemos de nós.



 Charles Burck 












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