Cheiros de lembrar
A chuva desaba, tudo parece
levado, a força das águas ensopadas tamborilha no telhado,
O som é bom, me
enleva, distrai, muda o foco das coisas,
Não saio de casa há dias,
emberno no mantra da natureza,
O cheiro de bolo de milho se
mistura ao do café,
Tudo faz parte de nós
Tenho milhares de histórias
passeando no ar,
Basta esticar o braço e
pegá-las,
Mas sempre pego a nossa,
Fazíamos jogos de tocar,
escolhendo sete lugares do corpo,
Olhos vendados, dois minutos de
experimentar,
Não valia as partes mais
nobres...
Era o mote para excitação
aumentar,
As expectativas de nós, os
dedos nos lábios, os seios, na nuca, as provocações
Fazíamos valer a pena cada
espera...
O chalé na serra, a neblina
cerrada, descobri o teu rosto no vidro embaçado,
O vinho quente, a lareira na
cumplicidade,
Os raios interrompem a
história, cada clarão tentando apagar os “para sempre”
Os cheiros são lembranças
determinadas, o da chuva, da umidade, da tua pele
Ainda amo os cheiros de
lembrar, os bolos de milhos sempre saem solados
O café requentado, a vida
incompleta
Sei que essa chuva fina, agora,
chora
Não sei se por mim,
Dentro do cheiro das águas tudo
cabe, até cheiro de saudade
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