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quarta-feira, 3 de maio de 2017

Cheiros de lembrar



A chuva desaba, tudo parece levado, a força das águas ensopadas tamborilha no telhado, 
O som é bom, me enleva, distrai, muda o foco das coisas,
Não saio de casa há dias, emberno no mantra da natureza,
O cheiro de bolo de milho se mistura ao do café,
Tudo faz parte de nós
Tenho milhares de histórias passeando no ar,
Basta esticar o braço e pegá-las,
Mas sempre pego a nossa,
Fazíamos jogos de tocar, escolhendo sete lugares do corpo,
Olhos vendados, dois minutos de experimentar,
Não valia as partes mais nobres...
Era o mote para excitação aumentar,
As expectativas de nós, os dedos nos lábios, os seios, na nuca, as provocações
Fazíamos valer a pena cada espera...
O chalé na serra, a neblina cerrada, descobri o teu rosto no vidro embaçado,
O vinho quente, a lareira na cumplicidade,
Os raios interrompem a história, cada clarão tentando apagar os “para sempre”
Os cheiros são lembranças determinadas, o da chuva, da umidade, da tua pele
Ainda amo os cheiros de lembrar, os bolos de milhos sempre saem solados
O café requentado, a vida incompleta
Sei que essa chuva fina, agora, chora
Não sei se por mim,
Dentro do cheiro das águas tudo cabe, até cheiro de saudade

Charles Burck 






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