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sábado, 30 de setembro de 2017

Este corpo ainda sente a força da chuva que cai forte,
Sinto o ressonar de cada osso
Cada alongar dos músculos das costas,
Nada me oprime, mas quero namorar esse rosto que nada me diz
Enquanto o envelhecer fala em mim
Dar asas ao cansaço para que ele voe para longe
Diga uma palavra, quero conhecer sua voz, o som que contem a tua alma
Calma, nem peço muito, é um momento de sossego para dar tempo à vida nova que se ajusta
 O corpo é o mesmo, mas há formas de aventuras a maturar as frutas mais novas
Desejos impróprios que nos fazem renascer
 São tantos, tantos, que em meus olhos povoam que parecem crianças à porta da escola,
Ou um bando de gaivotas esfaimadas dispostas sem regras no céu,
Eu te adivinho ao visualizar a ideia do gosto, o sabor se espalhando na boca,
Tomando a garganta, o peito, o coração pela substância a adentrar cada célula
É assim eu sou, um peixe a tentar respirar numa poça
O fim de festa, o final de semana, um adeus em algum momento da vida,
Os olhos que se recusam a partir.
É essa a corda que me envolve o pescoço,
Não tenho mais tempo,
deixe-me ir
Ou puxe-me o laço logo

Charles Burck
 
by Vladimir Dunjic



Até quando as paredes se doerão por mim?
E as portas rangerão as dobradiças das nossas ferrugens,
Ruídos das substâncias que choram e sentem
Porque elas ouviram tudo o que dissemos, que amamos e vivemos, tudo intensamente
Tomaram-nos os segredos para si,
Mal guardadas malicias, as unhas rabiscando o quarto
Até as paredes sabem quando a afeição suspira,
Quando as bocas se calam,
Quando o amor vai embora
Dizem.


Charles Burck 
O equilíbrio improvável a arma prateada à luz da lua,
Os ossos abandonados,
Uma história mal contada,
A linha no fim dos olhos, a romaria
E a perdição rascunhada no destino da divindade que desatina,
Talvez seja só a ressaca de escrever, a falta de vinho,
O rosto do lado de cá do espelho, a criatura,
Do homem que falo as ligaduras, a casca sem o sumo,
Os olhos sem rumos, as vidas em ensaios...
Tendo a descobrir-me no sereno, pó de lua, a metade nua das coxas dela molhadas pelo orvalho
Avança a idade, os vultos que fazem histórias,
Lavrar as pedras no trabalho diário, perguntas-te quantos passos
Nos definem agora, devido à distância a resposta demora
Noites tantas nos separaram à queima roupa, nos papéis as confluências nossas
Flores vergadas ao peso doas pássaros,
Atravessamos a rua à procura do destino, a arte de adivinhar o caminho bêbado de casa

Charles Burck



Entre as intermitências da vida e da morte uma alma boa espectra na campa da poesia,
Florbela e Pessoa, de mãos dadas passeiam a pagar penitências
Foi numa daquelas suaves certezas de que me olhavam, mas sem me verem, mas viam
E riam por certo de algo que não cabe aos homens banais,  
A vida parece tão prosaica para quem ama, que é preciso poema para preencher as lacunas,
Mas por com alguns requintes posso criar disparates, a dimensão de quem deixa a porta aberta ao que parte
Mas que só se há de medir quando se volta,
Mas a palavra lançada padece o ato de ferir para sempre, ou cantar as suas eloquências como aves sem donos,
Calo e escuto então,

Há ladainhas e carpideiras, o beija flor que bica a roseira não se preocupa com os espinhos
Mas as disposições concêntricas do vazio de quem não ama partem para dentro do homem e o consomem,
O vazio é frio perdido da fé,
Ah eu, que amo tanto, me dei conta de que me falta a mulher,
Estou em situação de desvantagem para suportar os desígnios de Deus,
E olho-me com olhos tão sérios quanto posso e a pergunta na cara não cala,
Tem os traços das minhas feições, rugas e linhas de expressão,  
Os defeitos nas sobrancelhas enrugadas e os olhos de me verem bem para dentro,
E o que isso importa?
Respondo

Charles Burck


Os teus olhos atravessados, olhando-me de lado como quem não quisesse olhar,
Essa parte de mim que me escapa quase inteira,
A minha alma de mil asas todas nascidas de ti
E eu dos céus de onde acenos, orno riscados com o teu nome que chamo, mas não se pode ter os voos e cingir os bordados,
Mas as tuas prendas são tantas que as dores se desprendem dos olhos que amam,
Eu podo as asas e afasto as penas, pois só assim vale a pena cair nos apelos da tua cama



Charles Burck 
Laurits Andersen

Não consegui digerir todas as lembranças das indigestas madrugadas,
Um bilhete rasgado, uma aliança jogada ao mar,
Hoje qualquer céu azulado me dói,
O mar vomitado dos lábios,
As ondas chamando o nome que a minha boca calou
Parto a solidão em pedaços, para suportá-la em doses diárias,
Pássaro preso às garras do isolamento, a lucidez dando sons aos gritos da ave,
Dentro da palavra a vida sussurra, diz-me baixo para não me ferir os ouvidos
São tempos onde os sossegos da terra nos cobrem?
A semente que brota das magoas, os espinhos que agridem a flor,
E eu nem mesmo sei o que falo,
Os ventos que campeiam as dunas me contam coisas dela,
Mas em mim a sensação que o amor carregou a minha alma tão para longe,
Tão longe que ela nem sabe como voltar.

Charles Burck


Entre um a estação e outra há primaveras que não esperam, são mais afoitas
Soltam o verbo, lançam cheiros como se fossem temperos de uma comida gostosa,
Há o tempo de florir uma rosa, mas a flor prosa, canto um pouco do siso de quem parte, mas também as alegrias de quem volta
É um estado de transe quando a natureza transcende nos chamando a atenção,
Sempre viva não morreu está brotando de novo, copo de leite esfriado no que caiu o sereno, um som que rugiu florescendo na boca de leão
Cravo que tem alguma margarida seguindo o girassol, o monsenhor florejou fazendo oração,
É como o amor a despir-se em todas as partes, as dentro e as fora, Deus mandando para nós um sinal
Quadro cenário de pétalas se fazendo primavera no tempo da vida e aqui no quintal

Charles Burck


Se eu te chamar, precisa explicar por quê?
Na cadeira do mito tu estavas sentada,
E eu boquiaberto babava algum tipo de admiração,
Não há na inquietação só conforto, nessa substância que nos mistura
certamente eu repouso nela, sem virgula, sem ponto
Um assento no meio do nada, onde sentamos e olhamos um para o outro
Seria bem provável qualquer um duvidar, se eu não estivesse aqui diria que sim
A imagem da passada primavera não conta
Quando a certeza do sol rilha nos teus olhos agora
E tu me perguntaste se eu imaginava vir para cá
Os rastros de tudo o que eu seguia eram para encontrar-te
O rastro que o sol deixava riscando o mar, onde o barco parecia um sonho
As almas das coisas exalando sorrisos e o amor passeando de mãos dadas
Possivelmente as nossas, solene e vasta imagem de tudo o que podemos ser
Unir as pontas de dois destinos é simples, mas duas pontas sem sintonias não levam a nada,
As fotos da primavera passada não contam
Como explicar o sentido das coisas quando só desejamos vivê-la,
Se eu te chamar, precisa explicar por quê?

Charles Burck




Tudo é aqui e agora
A eternidade um segundo depois
Emocionei-me, os sonhos vão além da amizade,
As viagens se dão onde se pode voar,
Em terras outras, distantes da nossa


Charles Burck 

Ah! minha amiga, perdoe-me as minhas fase de humano ser,
Os entendimentos falhos dos meus sentidos
 Perdão, a minha mente atrapalha de fato,
A magia de não se perder, as fagulhas sempre esperam o tempo certo,
O coração é terra que incendeia ao contato


Charles Burck 
Tzviatko Kinchev 

A incredulidade correu dos olhos à boca,
O que não me sara me traz o gosto do amargo,
A estação da lua nos trilhos do trem, infinitas vezes morremos num dia, dentro da palavra
O espanto me engole a realidade, como coisa descrita sobre um buraco no chão,
A terra é azul nos cimos, incluso no homem há céus, rastro mostrando como é a vida por dentro,
Espaços mudando os elementos depois do poema, a folha na água flutuando,
o verde evaporando para os meus pulmões vermelho,
A mistura de tudo, o mais profundo de nós,
Para ela será poesia, para os espantos também, a cabeleira negra e longa desafiando as razões das palavras
O corpo enluado que eu não sei explicar, escrevo, quem sabe ela leia,
Quantas vezes somos outros saindo de nós, na confusão dos sentidos ao anoitecer nos teus olhos,
Os meus toques no ar, na intenção do teu corpo, quase encostado, puro sentindo de se sobrepor à solidão,
A verdade, por vezes, espanta e nos veste de lugares não comuns,
Dentro do homem há um universo de sonhos, alguns escapam, a testaem a realidade,
Outros até chegam onde o amor habita


Charles Burck

Eu já vim ao mundo achando que seria grande, cresci então, pequeno


Charles Burck .
Lois Lowry.

Átrio onde minha alma descansa, entre anseios releio as esperanças,
Janelas abertas para admirar sonhos,
Rios de luar, silvos da terra que adormece,
Deito-me como um menino que sonha as paisagens para amanhãs
 Mitos e prosas, desejos dos olhos dela,
Verso o homem que a cada dia amadurece, não faço planos, mas faço festas,
Sonho por sonhar apenas.

Charles Burck


E desde que me perco nas sintonias dos olhares da fêmea, a energia que nasce do ventre, a armadilha que chega à boca,
 Verso, como homem que namora a poesia que nasce dela, visgo ornado nos seios, predado definitivamente ao que se dá ao poema,
O balanço quando anda, as agitações que o cio permeia, aos olhos que tateiam o movimento
Sou fadado a saber que logo eu me perco, ao olhar distraído seguindo o mesmo caminho dela
Supremo viajante lado a lado, o sangue que se injeta mais forte, o circuito vermelho quente, duas almas que unem em uma,
Obedeço aos semáforos do existir, os sinais que tecem essa forma de ser,
Que eternas fendas de profundas lições que leio, a pele impregnada do natural perfume,
Na tradução dos meus próprios sentidos confesso-me homem que arranca a poesia do ventre,
Rasgo o peito, o coração treme ao toque das unhas dela, abandonadas as defesas não sei em qual céu eu piso, em qual chão eu voo.


 Charles Burck




A caligrafia trêmula,
Sentidos contidos na vida,
Rabiscos que não aprendemos
De onde sou, de onde venho?

Assumo-me pelo que eu sou, letra por letra
Quando não precisamos nos preocupar com o mundo,
Com o tempo, com as grafias maiúsculas,

Há em nós memórias de viagens como sendo nosso Deus,
O fio de ligar a alma ao seio da vida, para não nos perdermos,
O sentido da porta de casa, de fora para dentro



Ensina-me a dizer com o coração tudo o que eu possa contar,
Os passeios que demos, passo a passo de ir ao mar,
A fome quando a verdade queria frutificar na nossa mesa

Escrevendo para contar o que somos,
Na noite que aprofunda os medos, a solidão de sermos um,
Mas escrevo para te trazer mais perto,
A nossa travessia com os olhos, quando eu tenho o teu olhar atento
Escrevo o teu sorriso à curta distância do meu rosto,
Escrevo, escrevo, escrevo


Charles Burck
Natalia Tour