Os mortos pingam da noite, algumas estrelas
novas brotam na sala de estar,
Os sorrisos amarelos nos portas retratos dizem
que vida pode mudar,
O teu perfil se alonga meses a fio, é como a
pintura da casa morta,
Tem cheiro e cor, a textura que brota de noite
e vem atentar os vivos,
Os teus olhos invasivos que nunca saíram de
mim, ficaram marcando lugar
Na nossa antiga pátria desfeita, sentávamos a
tomar chá feito com água benta
De perfil a vida não se mostra clara,
precisamos olha-la na cara,
A moça de branco que sempre nos visitava, de
vestido alongado, não mostrava os pés, parecia que flutuava, dizia-se uma
deusa, a dos poemas etéreos e a de unir duas vidas,
Ainda ouço as falas dela dentro das horas, a
falar dos coletivos para nos mostrar a alma una
Ainda acho verdades entre tudo que se perdeu,
não gosto de histórias tristes,
Mas tem uma menina de olhos de pássaros e cinta
azul que fica cantando uma antiga canção celta de perfil, dos dias acontecem coisas
diferentes, de vidas a fazerem nascer dos ossos flores redivivas,
Dos pássaros órfãos que aprenderam a voar
sozinhos, dos dias sem sol que aquecem, dos viços que tomam as portas retratos
com sorrisos dourados e dentes de sisos recém-nascidos
Preparei a casa com incensos e mirras, flores
de jabuticabeiras e chá de mimos verdes. Dei uma boa mão de tintas nas paredes,
lavei as cortinas, troquei o velho colchão de crina
Não sei se tudo volta, mas melhor deixar tudo
pronto
Charles Burck
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