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quinta-feira, 18 de maio de 2017

Os mortos pingam da noite, algumas estrelas novas brotam na sala de estar,
Os sorrisos amarelos nos portas retratos dizem que vida pode mudar,
O teu perfil se alonga meses a fio, é como a pintura da casa morta,
Tem cheiro e cor, a textura que brota de noite e vem atentar os vivos,
Os teus olhos invasivos que nunca saíram de mim, ficaram marcando lugar
Na nossa antiga pátria desfeita, sentávamos a tomar chá feito com água benta
De perfil a vida não se mostra clara, precisamos olha-la na cara,
A moça de branco que sempre nos visitava, de vestido alongado, não mostrava os pés, parecia que flutuava, dizia-se uma deusa, a dos poemas etéreos e a de unir duas vidas,
Ainda ouço as falas dela dentro das horas, a falar dos coletivos para nos mostrar a alma una
Ainda acho verdades entre tudo que se perdeu, não gosto de histórias tristes,
Mas tem uma menina de olhos de pássaros e cinta azul que fica cantando uma antiga canção celta de perfil, dos dias acontecem coisas diferentes, de vidas a fazerem nascer dos ossos flores redivivas,
Dos pássaros órfãos que aprenderam a voar sozinhos, dos dias sem sol que aquecem, dos viços que tomam as portas retratos com sorrisos dourados e dentes de sisos recém-nascidos
Preparei a casa com incensos e mirras, flores de jabuticabeiras e chá de mimos verdes. Dei uma boa mão de tintas nas paredes, lavei as cortinas, troquei o velho colchão de crina
Não sei se tudo volta, mas melhor deixar tudo pronto


Charles Burck


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