E a carência foi apedrejada pela hipocrisia
E algum prostíbulo santo a acolheu
Beijos falidos em arvores secas,
O fruto maduro colhido por quem não deveria
A boca maldita de dentes rangidos viceja um sorriso perdido
Hoje eu sei quantas noites perdidas perfazem
os caminhos do mundo
Almas toscas, miudeza das coisas
atravancando as estradas,
E sei também das arvores mortas sem
chances de circular suas seivas, florir, de parir os seus frutos,
E das folhas caídas que estampam os
olhos cegos a rolar pelas poeiras,
Os barros estragados de fétidos esgotos
não servem para moldar as costelas da criação,
Adão nasceu tingido de batom carmim e
Eva dá aulas de psicologia animal,
Preciso de uma noite a mais, em que eu
não sinta a agonia que a vida morreu,
Um lampejo que me apresente alguma
esperança,
Um calendário que não apresse o meu
tempo,
Preciso beliscar a minha pele de hora em
hora, dormir um sono bom,
Proteger a minha casa dos ventos do
isolamento, os telhados arrancados de tempos em tempos,
A solidão dos sem tetos, a alma despida
a céu aberto.
Charles Burck
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