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quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O preto se misturou ao branco,
Deu essência mulata, filho de banto,
Cafui se enveredou nos caminhos da preta,
Os corcomiçhos trocados ralaram um bocado de pelo,
Não sei quem avisou do fogo que ardeu no roçado,
Os pentelhos tosquiados pelo fogo vermelho esbrasearam do diabo,
Uma lírica artelha meteu a bedelha onde não havia sido chamada,
Quase perdeu a carrapeta fendida no meio do céu aberto,
A alma desavisada passou manteiga no pão errado e pagou dois trocados por uma xícara e meia de leite de lampreia do lago açodado,
O filho desnorteado escorreu no sabão, se feriu um bocado feito casca solta de mungunzá de milho velho
Tenho poemas de dedos profundos de darem luz ao moribundo, a operar em outros mundos para lá do sertão, de parir feito vento a lambuscar os vestidos morenos e abrir os ventres reclusos,
De bastardos piolhentos a lamber o rés do chão, para não queimar a sola dos pés nesse sol modorrento
Sou filho da sorte, nascer nesse mundo é arte operando milagre, faz tempo que pelejo a saber sobre essa tal existência, essa opera bufa existencial, esse joguete na boca da diva cantora de voz rouca e pernas finas, Burana Carmina de dor na garganta, estridente e que desafina, o absurdo de viver sem saber por que se pinga, por que se sangra.
O que se define como algo carente de coerência de demência alguma da parte de Deus, findou num prelúdio parido sem dor, no desamor de onteontem.
Dê-me licença, eu sou desaforado, língua de trapo colada nas ventas, se solto fogo sou por meio dele devorado, então me calo, mas não faz parte de mim
Já suei um tacho de espasmos maiores, de fomes tamanhas que nenhuma comida do mundo, às bocas tantas, dava conta,
Eu me farto de alegrias desprovidas de senso, a alforria solta, embalada na rede preguiçosa da vida,
Uma fogueirinha que brilha nos terreiro da noite, fingindo azougues de pirilampos
Lançando faíscas dos olhos do amor enfeitiçado, doidins para amar para os lados das moitas
Já brinquei de médico nas cozinhas da Madalena, a morena que só se vestia de cinzas, quando o vento bulia, ela se despia e se mostrava todinha, feito a cotovia querendo dá a passarinha.
A comida era boa, o tempero também, mas não convém divulgar a comida de notoriedade caseira, se disser que é papa fina , os famintos arregalam os olhos e chegam em enxames de marimbondos estropiados de devorar até os pratos, parecendo filhos da fome travestidos de coitados, mas coitado de mim que tenho penas.
Corrupião cantou três vezes, mas eu contei mais, o eco não conta, diz do padre que bebeu vinho demais, foi o santo tomado de sede, ludibriado pela cor da morena carmim
Tenho um prego de espantar demônios foreiros e um visgo de jaca que pega saci de dois pés, passei um vexame encorpado ao pegar um bicho estranho, dotado de seis pés e seis tetas, asas de borboletas e vitrais.
Zé do bredo assentou um bife na cara do Curvelo, Jesus disse apanhou na face esquerda, esquece, melhor uma face ardida do que duas doendo.
E eu me rio à vontade dessas coisas de ditados, já matutei um bocado ao desvio de mim, e conclui - Quem faz ditado não deve ter o que fazer.
O Menelau tomou chuvas de chispas de raios, por adorar enfrentar tempestades, um o atravessou ao contrário, e ele confessou todos os pecados, até o de comer a veia rosada, chamando de xepa.
Cianinha tem peito de joaninha, pequenininho que parece se esconde para dentro, como se fossem bordados na pele, faz tempo que me encafifo com eles, procuro a contento e não os encontros. Já os apelidei de desvelos, tenho carinhos e cuidados, mas que parece uma maneira excessiva de cuidar do que não se vê.
Uma vez ela pôs dois limões doces para formar arcabouço, e mandou que eu os mordesse de olhos fechados, os danados dos mamilos ácidos me deixaram com beiços inchados feito lábios de mulas, e me queimaram por três noites seguidas, espipocando feito fogo santelmo, a boca, a estourar todos os olhos de bois da venda do Silvino, até parecia festa de varas de foguetes no arraial.
No meio da praça, lambusca um pé de fruta condenada a viver virgem, Santa Matilde condena quem se aventura à burrinha inocente.
Pariu tem que aguentar feito crente, o choro que faz novenas a se estende da caatinga à borda da serra.
Para as bandas do sul o vento ventou numa curva e o vento de chuva despenteou os cabelos do Zé, tá todo de cabelo em pé feito bucheira no brejo, ajeitado para ir ao enterro do falido Gertrudes, mas o caixão de vidro dourado se quebrou antes de entrar no campo santo, esconjuro mil vezes o falecido bigode do defunto coitado, foi raspado para ser enterrado de cara mais limpa, mas os anjos não reconheceram o pelado e mandaram de volta para a Terra, apareceu na maternidade sem mãe escolhida, morrido sem ter nascido, ou nascido sem ter morrido, filho de chocadeira.
Perdeu-se o mau ladrão crucificado, o descarado cuchixim velou Jesus por duas noites e gemeu para ganhar os céus, levou o paraíso mofado, um pouco de farinha escarrada e trinta moedas vencidas, autografadas por Deus.
Quem deu guarida à insolência foi seu prefeito, perdeu a razão, rodeados de argumentos pestilentos suou um rio de lágrimas e de intrigas políticas pintadas de vermelho pimenta bem no centro da palavra de classe gramatical, substantivo masculino, de olho aberto por onde se expele excrementos, delicadamente chamado de ânus, ou escape traseiro e fedeu a mandinga esquecida de lavar as virilhas por séculos.
Por falta de forças devido à quaresma vou encerrar essa labuta poética de etnia duvidosa, à mesa posta faço um reza silenciosa aos meus irmãos encarnados, nascidos do cruzamento do Rei Sebastião com os sararás do lençóis, pros lados dos alagados o soberano cavalga um cavalo de fogo, dando coices para todos os lados que há.
Vejo dois sóis apontando para os lados do leste, um de bandana rosa e azul e outro vestido de chita, à boreste Chichininha me chamou para dormir, são altas horas, ela tem uma cama limpinha e cheiro gostoso, não sei explicar os meus vícios por aromas, mas o perfume vicia, tem noites que se espia por dentro, outras da janela de fora onde ela posta os peitos nus, na fragrância tinhosa de flor de arvozelo.  
Bem que eu queria terminar antes, mas me perdi em algum parágrafo no meio do caminho de laboriosa peleja, não que eu esteja sonado, mas nem sei se dou um basta ou ponto final, mas Chichininha me chama, melhor é eu sair de fininho dessa prosa sem rimas e ir poemar lá na cama.

Charles Burck


 Cândido Portinari

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