O preto se misturou ao branco,
Deu essência mulata, filho de banto,
Cafui se enveredou nos caminhos da preta,
Os corcomiçhos trocados ralaram um bocado de pelo,
Não sei quem avisou do fogo que ardeu no roçado,
Os pentelhos tosquiados pelo fogo vermelho esbrasearam do
diabo,
Uma lírica artelha meteu a bedelha onde não havia sido
chamada,
Quase perdeu a carrapeta fendida no meio do céu aberto,
A alma desavisada passou manteiga no pão errado e pagou dois
trocados por uma xícara e meia de leite de lampreia do lago açodado,
O filho desnorteado escorreu no sabão, se feriu um bocado
feito casca solta de mungunzá de milho velho
Tenho poemas de dedos profundos de darem luz ao moribundo, a
operar em outros mundos para lá do sertão, de parir feito vento a lambuscar os
vestidos morenos e abrir os ventres reclusos,
De bastardos piolhentos a lamber o rés do chão, para não
queimar a sola dos pés nesse sol modorrento
Sou filho da sorte, nascer nesse mundo é arte operando
milagre, faz tempo que pelejo a saber sobre essa tal existência, essa opera
bufa existencial, esse joguete na boca da diva cantora de voz rouca e pernas
finas, Burana Carmina de dor na garganta, estridente e que desafina,
o absurdo
de viver sem saber por que se pinga, por que se sangra.
O que se define como algo carente de coerência de demência
alguma da parte de Deus, findou num prelúdio parido sem dor, no desamor de onteontem.
Dê-me licença, eu sou desaforado, língua de trapo colada nas
ventas, se solto fogo sou por meio dele devorado, então me calo, mas não faz
parte de mim
Já suei um tacho de espasmos maiores, de fomes tamanhas que nenhuma
comida do mundo, às bocas tantas, dava conta,
Eu me farto de alegrias desprovidas de senso, a alforria
solta, embalada na rede preguiçosa da vida,
Uma fogueirinha que brilha nos terreiro da noite, fingindo
azougues de pirilampos
Lançando faíscas dos olhos do amor enfeitiçado, doidins para
amar para os lados das moitas
Já brinquei de médico nas cozinhas da Madalena, a morena que
só se vestia de cinzas, quando o vento bulia, ela se despia e se mostrava
todinha, feito a cotovia querendo dá a passarinha.
A comida era boa, o tempero também, mas não convém divulgar a
comida de notoriedade caseira, se disser que é papa fina , os famintos
arregalam os olhos e chegam em enxames de marimbondos estropiados de devorar
até os pratos, parecendo filhos da fome travestidos de coitados, mas coitado de
mim que tenho penas.
Corrupião cantou três vezes, mas eu contei mais, o eco não
conta, diz do padre que bebeu vinho demais, foi o santo tomado de sede,
ludibriado pela cor da morena carmim
Tenho um prego de espantar demônios foreiros e um visgo de
jaca que pega saci de dois pés, passei um vexame encorpado ao pegar um bicho
estranho, dotado de seis pés e seis tetas, asas de borboletas e vitrais.
Zé do bredo assentou um bife na cara do Curvelo, Jesus disse
apanhou na face esquerda, esquece, melhor uma face ardida do que duas doendo.
E eu me rio à vontade dessas coisas de ditados, já matutei um
bocado ao desvio de mim, e conclui - Quem faz ditado não deve ter o que fazer.
O Menelau tomou chuvas de chispas de raios, por adorar
enfrentar tempestades, um o atravessou ao contrário, e ele confessou todos os
pecados, até o de comer a veia rosada, chamando de xepa.
Cianinha tem peito de joaninha, pequenininho que parece se
esconde para dentro, como se fossem bordados na pele, faz tempo que me encafifo
com eles, procuro a contento e não os encontros. Já os apelidei de desvelos,
tenho carinhos e cuidados, mas que parece uma maneira excessiva de cuidar do
que não se vê.
Uma vez ela pôs dois limões doces para formar arcabouço, e
mandou que eu os mordesse de olhos fechados, os danados dos mamilos ácidos me
deixaram com beiços inchados feito lábios de mulas, e me queimaram por três
noites seguidas, espipocando feito fogo santelmo, a boca, a estourar todos os
olhos de bois da venda do Silvino, até parecia festa de varas de foguetes no
arraial.
No meio da praça, lambusca um pé de fruta condenada a viver
virgem, Santa Matilde condena quem se aventura à burrinha inocente.
Pariu tem que aguentar feito crente, o choro que faz novenas a
se estende da caatinga à borda da serra.
Para as bandas do sul o vento ventou numa curva e o vento de
chuva despenteou os cabelos do Zé, tá todo de cabelo em pé feito bucheira no
brejo, ajeitado para ir ao enterro do falido Gertrudes, mas o caixão de vidro
dourado se quebrou antes de entrar no campo santo, esconjuro mil vezes o
falecido bigode do defunto coitado, foi raspado para ser enterrado de cara mais
limpa, mas os anjos não reconheceram o pelado e mandaram de volta para a Terra,
apareceu na maternidade sem mãe escolhida, morrido sem ter nascido, ou nascido
sem ter morrido, filho de chocadeira.
Perdeu-se o mau ladrão crucificado, o descarado cuchixim
velou Jesus por duas noites e gemeu para ganhar os céus, levou o paraíso
mofado, um pouco de farinha escarrada e trinta moedas vencidas, autografadas
por Deus.
Quem deu guarida à insolência foi seu prefeito, perdeu a
razão, rodeados de argumentos pestilentos suou um rio de lágrimas e de intrigas
políticas pintadas de vermelho pimenta bem no centro da palavra de classe
gramatical, substantivo masculino, de olho aberto por onde se expele
excrementos, delicadamente chamado de ânus, ou escape traseiro e fedeu a
mandinga esquecida de lavar as virilhas por séculos.
Por falta de forças devido à quaresma vou encerrar essa
labuta poética de etnia duvidosa, à mesa posta faço um reza silenciosa aos meus
irmãos encarnados, nascidos do cruzamento do Rei Sebastião com os sararás do
lençóis, pros lados dos alagados o soberano cavalga um cavalo de fogo, dando
coices para todos os lados que há.
Vejo dois sóis apontando para os lados do leste, um de bandana
rosa e azul e outro vestido de chita, à boreste Chichininha me chamou para
dormir, são altas horas, ela tem uma cama limpinha e cheiro gostoso, não sei
explicar os meus vícios por aromas, mas o perfume vicia, tem noites que se
espia por dentro, outras da janela de fora onde ela posta os peitos nus, na
fragrância tinhosa de flor de arvozelo.
Bem que eu queria terminar antes, mas me perdi em algum
parágrafo no meio do caminho de laboriosa peleja, não que eu esteja sonado, mas
nem sei se dou um basta ou ponto final, mas Chichininha me chama, melhor é eu
sair de fininho dessa prosa sem rimas e ir poemar lá na cama.
Charles Burck
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