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terça-feira, 30 de maio de 2017

Valeriy Kot
No cenário azul, sou gato sem pelo e rosa sem pétalas,
Um diário que queima suas razões, por deixa-las ao largo
Despido a colher vestes emblemáticas, uma linha direta ao sentimento
Alguma roupa que me faça sentido,
Um dom de saber-me que na simplicidade do ser me venha dizer,
Como lidar com o mundo
Quem eu sou, eu sei, mas sei que diabo é um bicho sem nome, só se chama diabo por falta de nome,
A água aquecida tende a queimar se tudo se atribui a ele,
Para a sanha do palhaço patético eu tenho uma senha,
Um facho de luz que me protege
Fechados os canais a cena é outra, a vida que se exploda em fogo de artifício
Que eu gosto da claridade,
Eu sou leão de dupla juba, garra que acarinha, se alimenta de doce e dorme na chuva

Charles Burck


Não precisa gritar adeus, reforço que se perca as forças da energia da palavra, 
A intenção enfraqueça, diz-me baixinho, pois a esperança tem ouvidos sensíveis,
Diz-me como um segredo nosso, eu te peço que no silêncio a razão teça as despedidas com linha fraca
No sussurro ao meu ouvido, uma canção de coisas só nossas, tão nossos venha entoar,
Na certeza que as coisas desfeitas, possam ser um engano apenas,
Uma cantilena de quem nem partiu, mas já pensa em voltar.

Charles Burck


ROBERT JAHN
Você me fala de solidão, da pedra sentada na estrada
O vento a tirou para dança e você não dançou,
O que amarga sua amargura?
A lua andou aberta e cheia e você vazia e escura
Tudo é para o bem, eu sei,
O mal só vai até onde lhe cabe, eu corro todos os riscos,
e você nem salga a vida,
Há alguma coisa desbotada nas tuas penas azuis,
Uma monotonia sem domingos
Um poema largado, esquartejado em praça publica,
Você se ausentou oblíqua, sem coragem de levar voos e com medo do chão
Fechou suas janelas para mim, mas esqueceu de que eu sou o ser que passa pelas frestas,
O calor que a aquece do frio,
Quem recolhe as pedras do seu caminho
Você fala da solidão sentada na pedra da estrada,
Eu sei, não faz mal, tudo tem o seu tempo,
Deixe-me sentar o teu lado, que eu a espero


Charles Burck






Sırada-Marek Brzozowski


Algumas coisas sempre eram tão familiares aos olhos,
Viver é se aproximar mais, sentir, perceber
Falamos dos cheiros, das afetividades, da pele que nos relata sentimentos,
Podemos sentir no cheiro e na pele, noções de sensibilidades, revelações, solidões, antigas saudades
Podemos invadir o tempo da pele e concluirmos muitas coisas,
Podemos serenar o cheiro, misturá-los, fazermos experimentações,
Do ópio com jasmim, o cheiro dos olhos dela,
Da rosa campesina como o cravo burguês, um conto de superação das diferenças sociais,
O cheiro do papiro da carta escrita centena de anos, com a verbena do império romano,
Posso falar de tantas coisas, cada qual no seu devido lugar, das combinações que dão certo,
Da caixa de costura com linhas coloridas, do botão que pulou o muro para amar outra flor,
Mas outras tantas coisas têm o jeito da gente,
Coisas que são melhor não mudarmos de lugar, a poeira assentada é a melhor solução,
Sempre que mexo nesse pó meu olhos se enchem de saudades....


Charles Burck 

Natalia Vetrova
E eu avisto nos teus olhos a presença do tempo,
Uma frase mal formada, uma indefinida sentença
Formada de reticências e vírgulas.
Um poema inacabado..
Não me cabe interferir neste contexto,
Mas um beijo muda palavras,
Um vento que carrega um nome pode desviar-se da montanha,
Um rio que chama alguém pode deságua em outro peito
E as distâncias chegaram mais perto para sentir se os olhos ainda choram  
A razão carregada nos meus versos é como amor debruçado à janela,
Em suave silêncio de espera, ao que nos acercamos do bosque podemos ouvir o correr da fonte sonora,
O fim e o começo das substâncias que somos
Quando essa mão invisível nos toca não há coração que não sinta
Peguemos papel, caneta e tinta nova,
Começamos do zero, apague o passado,
Recomecemos o poema...



Charles Burck 
Charlie Davoli
Logo que eu aprendi as primeiras letras consegui sozinho formar as primeiras palavras, as primeiras frases, e saber-me um devorador de livros, depois, só bem depois que já sabia escrever, que me escritor.
Vocês já repararam como eu falo do tempo?
O tempo dentro das lembranças pouco sabe das horas, pouco sabe das noites e dos dias
Não se pode manipular as lembranças, seria deformar o que somos, instalar um depósito de bugigangas dentro do ser. O que seria dos nossos mitos, dos nossos heróis, de nossos espelhos?
O meu pai era um homem cronológico, estabelecia horários para tudo, para eu ler também, determinava à minha mãe o que eu deveria fazer diariamente, depois sumia e só aparecia quando eu já dormia.
A minha mãe obedecia, e eu – Bem, eu lia, lia no banheiro, no almoço, na cozinha, lia acordado, dormindo, fazendo xixi, tomando banho e lia tudo, caixinha de fósforos, propaganda de chicletes, anúncios fúnebres e anuncio de bondes.
Vejo- me sempre pendurado a um livro, ele preenchendo meus vazios, dialogando com minha solidão de menino e forjando meu caráter.
A cronologia das lembranças nem sempre está na ordem certa, acho que antes de ser um leitor eu fui um livro.


Charles Burck


Ao que o gato mia, o rato treme,
Mais rato é então,
Ao que o rabo balança
Pensa ele, o gato, do rabo ser a extensão,
Cortaram o chifre do rinoceronte para aumentar a libido
Para que a mente então?
Se a cabeça que pensa é a de baixo, 
Se ao penetrar no rabo perde-se a razão
A avestruz esconde a cabeça no buraco
O que a cabeça não vê o rabo não precisa saber,
O rabo acuado pede socorro ao homem,
Mas o homem com toda compostura,
Entre o conflito do ser ou não ser,
Enfia o rabo entre as pernas e prefere não saber



 Charles Burck 


casadagata.tumblr_

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Não é fácil perceber a manhã se a mente fica presa à ideia do sono
Recorri a tantas metáforas, mas agora preciso falar diretamente,
Debruçado à beira do precipício sobre um espelho que me observava a loucura
Via formigas, tantas, a ganharem asas e preenchem o universo,
E as minhas, que tanto precisava, a se descolaram das costas feito cera, ao que eu te amei,
O coração , passou a ser o corpo todo e eu a sensação de não me pertencer
Era um solfejos de pássaros em cantos de milhares de anos
Em respostas ao esperado milagre da transfiguração,
O arrependimento nato de quem não veio antes,
Um atraso que achamos ser apenas um acaso,
Eu vim muito cedo, mas cheguei tarde demais
Mal sabem os malditos piratas dos céus a razão do poema,
A mulher casta e fiel ao seu homem, que morre com apetites de esperas,
A cama arrumada, as vestes de dona de casa e as ideias das prostitutas ardendo na alma,
Foi uma viagem sem fim o sentir cada sentir,
Saber-me longe de ti, para aprender a viver onde há fomes tantas ao desejo da vida
E o marinheiro atrevido comeu a sereia em razão da bulimia
Foi apenas um estalo que me fez morrer sem que tivesse as suspeitas do certo e do errado,
Mas não havia julgamentos nos rostos pequenos, no sexo ardido que adentrava o sofisma
Nem nos corpos apinhado de gozos havia pecados,
As figuras em artes plásticas, nuas fêmeas, em cores famélicas a desejar por alguma amabilidade do pincel do artista
O instrumento na boca que tocava, o beijo que arfava, o sopro que dava a origem dos átomos de ti e de mim,
Não fosse a cegueira dos meus olhos poderia ter te visto antes, mais
Assim louco vivo de varrer a loucura para poder ver no caminhos dos sãos algum traço de mim
Alguma forma sem metáfora, ainda, de chegar a ti


Charles Burck

Elena Vizerskaya









E a carência foi apedrejada pela hipocrisia
E algum prostíbulo santo a acolheu
Beijos falidos em arvores secas,
O fruto maduro colhido por quem não deveria
A boca maldita de dentes rangidos viceja um sorriso perdido
Hoje eu sei quantas noites perdidas perfazem os caminhos do mundo
Almas toscas, miudeza das coisas atravancando as estradas,
E sei também das arvores mortas sem chances de circular suas seivas, florir, de parir os seus frutos,
E das folhas caídas que estampam os olhos cegos a rolar pelas poeiras,
Os barros estragados de fétidos esgotos não servem para moldar as costelas da criação,
Adão nasceu tingido de batom carmim e Eva dá aulas de psicologia animal,
Preciso de uma noite a mais, em que eu não sinta a agonia que a vida morreu,
Um lampejo que me apresente alguma esperança,
Um calendário que não apresse o meu tempo,
Preciso beliscar a minha pele de hora em hora, dormir um sono bom,
Proteger a minha casa dos ventos do isolamento, os telhados arrancados de tempos em tempos,
A solidão dos sem tetos, a alma despida a céu aberto.

Charles Burck
Robert Heindel 



Quero desvendar os teus segredos, para além da tua morada,
Acordo sem o contorno do teu rosto, mas a essência tua em mim vive intacta,
É clara como um dia de vento e a imaginação e às vezes vaza,
O dizer sem dizer que me escapa como a erguer madrugadas apenas com os olhos que querem ver
Mas há segredos guardados que devem ser apreciados como um belo vinho
Sem pressas
É preciso dizer que as querenças são marcas que pulsam na pele
E o infinito inventou fome de não comer tudo, é preciso vagar, contornar os fatos, ir onde a suscetibilidade nos levar
A gula é um dos pecados mortais... Adverte-me ela,
Mas as minhas delicadezas de fazer poemas me dão a sensibilidade ao paladar,
Verdade, essa é a essência...  
Calo-me arrepiado, por não saber o que articular, mas podia esquecer cada dialogo, precisava guardar tudo em poema,
Ao que não se saber o que falar, que não dizendo, mas querendo dizer, o gosto venha a aflorar sem palavras
Não quero cair em pecado, mas a sensação da tentação já tem nome,
Não quero servi-me dos olhos e perder o desejo de saber tão bem delibar o que nunca se teve na boca.
No coração de quem sabe amar além do corpo, há de pegar a chave de tua fechadura
Isso é loucura! A imaginação, às vezes, é muito fértil - Repete-me ela,
É verdade, eu sei.
Mas no fundo o problema é dar mais do que se recebe, assim em tempos de seca. planto sementes então.
Raízes que penetrem o cadeado, acreditando que quem pode ver além do amor,
Não há de se sentir frustrado



Charles Burck 

terça-feira, 23 de maio de 2017

É em ti que penso, já que outra coisa não sei fazer, a não ser crer em ti...
Já que as todas as lonjuras trafegam sobre os meus ombros,
Sei de um rio que sabe de mim, diz ele que as distâncias não carregam as saudades
Que outra coisa eu sei fazer se não, pensar-te?
Nesta lonjura que nos liga agora. 
Cresce no mundo os ligados corações, aos sopros que nos levam o ar, os que veem e vão, dando espaços às respirações, recuso-me a seguir a estrada sem aspirações, atormenta-me o peito seguir sem a minha alma ao lado
Percebi que uma estrela corajosa atirou-se ao mar,
Mergulhamos quando vemos nossos reflexos, no oceano dos sonhos as estrelas brilham mais fortes
Na soma de todas as aceitações nascem os viços, brilhos novos, fios prateados que nos ligam as mãos
E assim mergulhamos mais na confiança das águas tépidas, onde possamos mais conhecermos de nós,
As flores nascem às adições da receptividade, disse-me ela.
Ela sempre sabe o que diz,
Ela percebe o mundo, analisa a vida, caminha nos limites da sanidade e da loucura,
Entre as cartas, vemos tantas certezas,
Quanto mais fundo mergulhamos mais elas nos assomam,
Existirão acasos nos encontros, ou reticências nas coincidências?
Diz-me ela, que não,
as esperanças se pautam pelas ritmadas linhas das mãos,
Pela melodia que enchem os olhos de admiração, quando cremos na intuição
Duvido de tudo o que não me vem de dentro, duvido de tudo, menos do que ela me diz,
E não duvido de mim próprio por acreditar nela
Charles Burck

Gênesis

Marcamos de nos conhecer
Lá no fundo do tempo, do quadro negro onde Deus desenhava a criação,
Ainda quando o pó dos barros moldava os esqueletos, quando nem tínhamos asas
Quando a primeira gota de chuva experimentou o chão,
Ainda quando eram itinerantes energias a procura de nós, dois pequenos milagres
Disse Deus – e pouco a pouco se sentirão, e tantas vezes se reconhecerão,
Às margens da casa dos meus passos percebi os fascínios, não sou alheio à corrente das simplicidades das quais fomos criados
Virgem e fulgurante, exalas tua imagem em qualquer caminho que eu tome
Marcamos de nos conhecer quando nem ao menos sabíamos de nós,
Quando éramos rascunhos divinos
Na concepção da gênesis, no íntimo sentido da fecundação,
Quando nem criada era a palavra dizíamos telepaticamente,
Habita-me a certeza de a ti pertencer.
Para podermos respirar criamos os beijos, uma forma profana de nos engolirmos
Só assim eu sei morrer em ti, pois é a única forma de voltar a viver



Charles Burck 

segunda-feira, 22 de maio de 2017


Na exaustão havia o componente de amar demais, mas ela sempre me dizia,
Vamos dormir que amanhã tudo passa,
E passava, o amor não nos restringia, ele vinha em receptividade nos receber ainda na cama, com mimos e sensualidades
O que parecia ficção era só fricção na realidade,
Mergulhávamos como se nunca houvéssemos nos vistos,
Na fome de onteontem rasgamos as alegrias feito papel picado,
E festejávamos o amor livre das moralidades
Aprendíamos mais sobre nós
O que eu vou contar aos astros quando precisar voltar?
Vou dizer que as flores espocavam nos jardins do nosso amor?
E nossos olhos brilharam sempre em infinitos sóis
Talvez um dia entendamos o nosso universo, quando eu não precisar sentir mais nada
Eu já vi a morte enfeitada de tiara de flores do campo e costume Dior,
Ela velava as consciências e os diários das mentes,
Por isso eu não escrevo nada, finjo inocência, festejo a vida com uma sensata ruga na testa
Quando ao findar das tardes, já aliviadas as minhas carência
Eu possa saber que se errei foi porque eu fiz tudo certo
E se me perdi foi porque eu amei demais


Charles Burck