Não
é fácil perceber a manhã se a mente fica presa à ideia do sono
Recorri
a tantas metáforas, mas agora preciso falar diretamente,
Debruçado
à beira do precipício sobre um espelho que me observava a loucura
Via
formigas, tantas, a ganharem asas e preenchem o universo,
E
as minhas, que tanto precisava, a se descolaram das costas feito cera, ao que
eu te amei,
O
coração , passou a ser o corpo todo e eu a sensação de não me pertencer
Era
um solfejos de pássaros em cantos de milhares de anos
Em
respostas ao esperado milagre da transfiguração,
O
arrependimento nato de quem não veio antes,
Um
atraso que achamos ser apenas um acaso,
Eu
vim muito cedo, mas cheguei tarde demais
Mal
sabem os malditos piratas dos céus a razão do poema,
A
mulher casta e fiel ao seu homem, que morre com apetites de esperas,
A
cama arrumada, as vestes de dona de casa e as ideias das prostitutas ardendo na
alma,
Foi
uma viagem sem fim o sentir cada sentir,
Saber-me
longe de ti, para aprender a viver onde há fomes tantas ao desejo da vida
E
o marinheiro atrevido comeu a sereia em razão da bulimia
Foi
apenas um estalo que me fez morrer sem que tivesse as suspeitas do certo e do
errado,
Mas
não havia julgamentos nos rostos pequenos, no sexo ardido que adentrava o
sofisma
Nem
nos corpos apinhado de gozos havia pecados,
As
figuras em artes plásticas, nuas fêmeas, em cores famélicas a desejar por
alguma amabilidade do pincel do artista
O
instrumento na boca que tocava, o beijo que arfava, o sopro que dava a origem
dos átomos de ti e de mim,
Não
fosse a cegueira dos meus olhos poderia ter te visto antes, mais
Assim
louco vivo de varrer a loucura para poder ver no caminhos dos sãos algum traço
de mim
Alguma
forma sem metáfora, ainda, de chegar a ti
Charles
Burck
Elena Vizerskaya