O causo do amor morrido
Vou dando lambidas nos ossos dos outros, um dia a
faxina termina bem,
O visgo de jaca pegou o pé da viuvinha, a bichinha
se empoleirou no lugar errado, deu trabalho danado para ser retirada,
A descabida
tem a vontade nas áreas fogosas, é brasas de fogueira viva, chispa fagulhas e
lança faíscas.
O dom do desejo é febre a
Sabe o quanto sobrou de nós depois do amor
queimado?
Cinzas, tantas vezes sopradas, para vermos se ainda
havia alguma brasa ativa,
Eu gostava dela, sim gostava, não desatino, não
minto que não gostava,
O amor matado ainda fede no meio da estrada, corpo
sangrado, cadáver perpétuo, peito aberto aos corvos da hora, festa dos abutres que
agouram
a felicidade alheia,
O amor exposto sem destino e sem sina, o menino que
empina pipa o pisa sem dó
As intempéries o atiçam com raios e coriscos, mas
coitado abandonado pela sorte tem morte morrida de fato, assinada pelo
necrotério e noticiada na radio,
Só faltou o enterro,
Mas eu gostava dela, gosta sim da assassina,
É raro encontrar alguém que tem olhos de céu e vê
além das nuvens,
Eu a alimentava para mundo de coisas boas, a quem
presenteia a vida com a sua presença,
Que se sentava no meio do nada para me contar
segredos,
Trocar ideias, que me abraçava sem pressas, sem
motivo algum,
O parco de azul que há na cidade, ainda é dos olhos
dela,
Mas ninguém dá mais bola para os elementos, estão
todos vivendo sem perceber que estão sendo engolidos por suas incapacidades de
se abstrair,
Mas há ar atravessado, boi que foge da boiada, há
sinas plantadas antes de vir,
Ocultando-nos de nós mesmos, nos roubando a percepção de reparar nos detalhes.
Acho que com o nossa amor foi assim, foi aos
poucos, perdendo o viço, padecendo de amarelão
Somos todos partes de coisas perdidas
Sim, eu gostava dela e até ela deixar de gostar de
mim
Charles burck
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