Há um buraco no meio da sala,
Somos um pequeno céu a soprar as nuvens tensas,
Mas o buraco consome, engole tudo, a verticalidade do
desejo da queda,
O precipício dos móveis, o tapete que esconde
tantas fendas,
A porção certa de medos e desconfortos,
A água vertida, um oceano inteiro que cabe dentro
da sala,
Mas julgo serem imprecisas as manhãs com que
queremos medir nossas escuridões,
Há um buraco no meio da cama, maior que o quarto.
Um vazio maior ao que nos juntamos,
Ao que tentamos calar o que somos,
Um vazio maior ao que nos juntamos,
Ao que tentamos calar o que somos,
Um regresso de tantas vezes sem voltas,
Sem reencontros, sem palavras, sem ameaças, sem
fundamento,
Meu coração ontem conversou com um poema, alguém
sem nome, sem rosto que aceita minhas verdades, que não me pede muito,
Que não exige nada, apenas me ouve,
Fabrico ilusões aconchegantes, o edredom fechando o
buraco, a noite ainda vaza, mas já sonho
Charles Burck
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