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sábado, 23 de setembro de 2017

Doo-me à melancolia
Haverá salvação para as palavras, mas para mim, não
Um azul perdido entre os olhos
Outro verão estragado, o mar salgado em excesso
Outro dia tentando entender a vida, contando folhas cinzas em variados tons
Cada dia que avança é preciso depurar os fatos,
Filtrar os sinais, escrever para conter a perda da lembrança,
Um remédio para deter a mentira de dizer que não sofre,
O amor não acaba, nem morrer, é retalhado e espalhado os pedaços em cada canto do mundo, nas galerias por onde passamos,
Em algum quarto escuro da memória, para ocultar os sorrisos que demos
Amastes a minha boca como recorte quadrado de retalho costurado um a um, imagens, retratos memórias
Silenciaste meu amor como remendo de colcha de fuxicos coloridos ao avesso,
Como bandeira pendurada na janela para pegar sol,
Depois guardada por longa data sem uso, no fundo do sótão
Eu vi o sobressalto nos meus olhos no espelho, o medo de nunca mais poder enxergar de novo
Nesse bloqueio de lâminas postas como os fios para cima, como um bosque de matar passarinho que pousa para pegar comida,
A carne que sangra, a boca que grita, os pulsos cortados e a voz que não sai
Ai de mim, morto vivo, das coisas que tocastes, a minha boca que amastes e matastes o dom do beijo,
A voz que procura perdão no mundo silencioso dos labirintos do som
Preciso buscar um refugio, um lugar de repouso, onde a morte perdure para sempre,
Um lugar onde somente eu saiba que existe, onde o amor passe acanhado, envergonhado de um dia te amado demais

Charles Burck
Metin Demiralay



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