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domingo, 24 de setembro de 2017

O último causo, o das lágrimas vertidas



E ela chorou lágrimas que os olhos dela desconheciam, como se alma desmanchada buscasse um caminho de fuga,
Como nas gotas se contam tantas histórias? A tua a minha, a nossa,
O que escapa quando não pode mais ser contido
Não tenho respostas guardadas, cada pranto é janela exposta de alguma ferida aberta, ou de alguma alegria sentida, colhida em alguma fonte de prazer,
Há tantas redundâncias em querer traduzi-las como poemas, nem sei se vale apena redimi-las
É como a tarde sendo parte da noite, ou alguma palavra fugida de uma frase cortando-lhe o sentido,
Não farei isso, temos destinos diversos, elas não querem os meus muros para lamentos,
Talvez seja flores ofertadas a algum amor sepultado, a lembrança de algum beijo guardado no desenho dos lábios,
Que importância isso resulta, se a cada palavra que me escapa da boca mais me afasta das razões,
As minhas desistências, a minha eloquência, tantas verdades partidas ao meio
Os floreios dos caminhos que tomam, aliviam, os suspiros veem depois,
Já chorei tantos choros sem causas, tantas lágrimas doces e outras tantas, amargas, das persistentes febres que eu tenho,
Já moldei papeis em silêncios de escorrer dos olhos dos lobos, de estrelas vertidas, de chegadas e partidas tão distantes de mim,
Nem saber se era eu, eu sabia,
Um amado, um sentimento na forma oculta de amizade, estertores tremidos na intenção de chegar ao peito do outro, ao coração com um toque
A linha horizontal achando-se um caminho mais curto e eu amanhecido pensando que estive do lado errado,
Depois das águas vem a poeira, um sopro de emboscada às almas mais expostas, um vulto caminhando na penumbra, ou a identidade de alguma coisa morta
A barreira contendo uma espera, o papel do poema mastigado,
A pele, os rasgos nos rostos, as janelas de escapes das águas, as faces molhadas
Já fui tuas lágrimas e já fostes lágrimas minhas,
Deflagração dos movimentos transcendentes da alma, luzes arrancadas à força dos céus de dentro,
Algum elemento a mostrar-nos o quanto sagrado somos,
Vejo assim pedaços da alma escorrida, não posso tudo saber, o entendimento é vento que seca o que queríamos poder compreender,
Assim dou-te um lenço, quem sabe na composição venha um poema que foi vertido
Depois a verdade, o tempo, as estações, os ciclos onde floresçam lágrimas macias, a soma do que somos, em flores de cerejeiras,
As imagens, os sonhos, uma velha canção, algum furtivo lamento
Um filme numa sala vazia, um piano sobre os escombros, qualquer coisa que a faça dizer:
“Foi um cisco nos olhos”

Charles Burck




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