O último
causo, o das lágrimas vertidas
E ela chorou
lágrimas que os olhos dela desconheciam, como se alma desmanchada buscasse um caminho
de fuga,
Como nas
gotas se contam tantas histórias? A tua a minha, a nossa,
O que escapa
quando não pode mais ser contido
Não tenho
respostas guardadas, cada pranto é janela exposta de alguma ferida aberta, ou
de alguma alegria sentida, colhida em alguma fonte de prazer,
Há tantas
redundâncias em querer traduzi-las como poemas, nem sei se vale apena
redimi-las
É como a
tarde sendo parte da noite, ou alguma palavra fugida de uma frase cortando-lhe
o sentido,
Não farei
isso, temos destinos diversos, elas não querem os meus muros para lamentos,
Talvez seja
flores ofertadas a algum amor sepultado, a lembrança de algum beijo guardado no
desenho dos lábios,
Que
importância isso resulta, se a cada palavra que me escapa da boca mais me
afasta das razões,
As minhas
desistências, a minha eloquência, tantas verdades partidas ao meio
Os floreios
dos caminhos que tomam, aliviam, os suspiros veem depois,
Já chorei
tantos choros sem causas, tantas lágrimas doces e outras tantas, amargas, das
persistentes febres que eu tenho,
Já moldei
papeis em silêncios de escorrer dos olhos dos lobos, de estrelas vertidas, de
chegadas e partidas tão distantes de mim,
Nem saber se
era eu, eu sabia,
Um amado, um
sentimento na forma oculta de amizade, estertores tremidos na intenção de
chegar ao peito do outro, ao coração com um toque
A linha
horizontal achando-se um caminho mais curto e eu amanhecido pensando que estive
do lado errado,
Depois das
águas vem a poeira, um sopro de emboscada às almas mais expostas, um vulto caminhando
na penumbra, ou a identidade de alguma coisa morta
A barreira
contendo uma espera, o papel do poema mastigado,
A pele, os
rasgos nos rostos, as janelas de escapes das águas, as faces molhadas
Já fui tuas
lágrimas e já fostes lágrimas minhas,
Deflagração
dos movimentos transcendentes da alma, luzes arrancadas à força dos céus de
dentro,
Algum
elemento a mostrar-nos o quanto sagrado somos,
Vejo assim
pedaços da alma escorrida, não posso tudo saber, o entendimento é vento que
seca o que queríamos poder compreender,
Assim dou-te
um lenço, quem sabe na composição venha um poema que foi vertido
Depois a
verdade, o tempo, as estações, os ciclos onde floresçam lágrimas macias, a soma
do que somos, em flores de cerejeiras,
As imagens,
os sonhos, uma velha canção, algum furtivo lamento
Um filme
numa sala vazia, um piano sobre os escombros, qualquer coisa que a faça dizer:
“Foi um
cisco nos olhos”
Charles
Burck
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