Há folhas caindo
mesmo depois do outono
Talvez aos meus
olhos carregados de ver demais,
Isso me canse, as
flores que se adensam ao que crescem,
As sutilezas em
cada mão bordando as peças de renda
As cantigas das
bordadeiras têm uma alma pura,
E eu que quase
não lembro as alegrias do esquecimento
Escrevo para não
perder a memória, dispo-me assim devagar diante do espelho,
Para saber o
corpo que eu tenho, as marcas visíveis e as magoas cerradas nas cortinas do
tempo,
Os pássaros se
queimaram nos teus cabelos de fogo, marcou-nos isso assim como histórias
Sou como um
menino feliz quando não penso no homem que amou tão intensamente,
Que nunca padeceu
de insônias, pois que pegava as pedras e as atirava à lua
É bom que te
apresses, pois como tudo de resto chegarão os dias sem complacências
As severas mudanças dos homens, o estremecer
do mundo,
Apresso-te quando
há tantos riscos no olhar, quando eu já perco a capacidade de juntar as letras,
De formular
sentenças, de não saber o caminho que tomo,
Mas apego-me às
nossas formas de caminhar, de olharmos para o destino, juntos
As poéticas dos
seus pés, as mãos dadas, o caminhar sem pressa
Assim quem
precisa do mundo, fazer poesia, ou saber o caminho que toma?
Charles Burck
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