Translate

sábado, 7 de outubro de 2017

Será que Deus está dormindo agora,
Nas redondilhas, nos nós das tranças,
Há algum pedaço de céu para aliviar a dor das crianças?
O cão que ladra não de fome, mas dos fastios das perversidades dos homens,
Quem sabe morrer seja a dor do nada, mas viver é a dor de tudo
Quando dizemos que amamos, a bruma adensa a terra e nos perdemos do outro,
A nitidez é mais presente no vale das almas perdidas,
O ignoto brinca de roda nas ruas, toca as meninas, lambe-lhes as ingenuidades, 
Deixam-nas mulheres imaturas
E eu que nem sei os limites do que posso fazer, não tenho confortos, não tenho voz, não tenho sina,
A virgindade morre em cada menina que nasce
Ouço os meus choros se perderem nas orações que não ecoam,
Só espero o fim deste ato e que dele não seja só a superfície,
O escorregadio do sangue, o limo e os detritos nos levando em correntes ascendentes,
Arrastados no topo da onda do juízo final, um nada para nos agarramos,
A maldade nossa de cada dia, um copo de vinho, um naco de pão,
A voracidade que nos consome, todos crucificados,
Um ao lado do outro, ao lado direito o mau ladrão, ao esquerdo o ladrão mau
Sem olhos, sem bocas sem sentidos, deuses sem nomes, homens

Charles Burck



Nenhum comentário:

Postar um comentário