Será que Deus está dormindo agora,
Nas redondilhas, nos nós das
tranças,
Há algum pedaço de céu para
aliviar a dor das crianças?
O cão que ladra não de fome, mas
dos fastios das perversidades dos homens,
Quem sabe morrer seja a dor do
nada, mas viver é a dor de tudo
Quando dizemos que amamos, a bruma
adensa a terra e nos perdemos do outro,
A nitidez é mais presente no vale
das almas perdidas,
O ignoto brinca de roda nas ruas, toca
as meninas, lambe-lhes as ingenuidades,
Deixam-nas mulheres imaturas
E eu que nem sei os limites do que
posso fazer, não tenho confortos, não tenho voz, não tenho sina,
A virgindade morre em cada menina
que nasce
Ouço os meus choros se perderem
nas orações que não ecoam,
Só espero o fim deste ato e que
dele não seja só a superfície,
O escorregadio do sangue, o limo e
os detritos nos levando em correntes ascendentes,
Arrastados no topo da onda do
juízo final, um nada para nos agarramos,
A maldade nossa de cada dia, um
copo de vinho, um naco de pão,
A voracidade que nos consome,
todos crucificados,
Um ao lado do outro, ao lado
direito o mau ladrão, ao esquerdo o ladrão mau
Sem olhos, sem bocas sem sentidos,
deuses sem nomes, homens
Charles Burck
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