Olhos
Ferinos
Curvo-me,
vergo-me, mas não apodreço,
Meço a
umidade dos ventos, a quem há muito tempo peleja
Afasto-me
dos olhos doces, que tentam coisas me dizer,
Mas o
mel de açucena envenena e fecha a garganta da presa,
Curvo-me
humildemente devido a ignorância que me permeia,
Tendo
aos acenos do saber, que me estendem os braços
Mas
esses olhos me acenam também, são feitos de aço banhados em azul
Ou seja
o reflexo do céu no polido metal de armadilhas
A boca
que brilha o vermelho batom escondendo as presas, aguçam-me os sentidos
Há nos
teus olhos a divina presença que condensa o homem incauto,
Revestido
de tramas sutis, admirares cáusticos, ou de mel deixar a língua surpresa,
Curvo
ao beijar-te os pés, mas os permeios das ancas falam a língua dos menestréis,
Dos
paraísos aos bordeis, de tantas piedosas más intenções,
A
induzem-me a beber do ventre das águas das profundezas dos astros, os infinitos
sumidouros dos céus,
A
virgem madura serpente, da maçã que come gente, a redemoinhar como vento
querendo induzir-me os passos,
Curvo-me
ao lamento dos olhos que choram lágrimas de fulgor difuso,
Mas
não bebo do liquido que saliva oferecendo-me os lábios, da substância que me
oferta-me o alimentos,
Se
bebo, a minha boca morre, as veias secam, e o sangue me consumirá feito vinho
tinto fervente
A
cozer-me o cérebro, a alma e a vida que ainda esteja a contar-me os dias,
Curvo-me
ao amor, as miragens e os desertos, e os teus pés caminham seguindo os meus,
atiça-me as areias aos olhos e a pele que me resta, tosta-as ao sol
Desfiei
os músculos, e moí os ossos, a carne desfez-se ao contato das tuas,
Padeço
aos insanos desejos a deflorar-me as vontades,
Curvo-me
enfim ao destino do homem perdido, entregue, como um servo penitente, louco, um
demente
E tu
ris assim de mim, olhos inocentes, sem piedade
Charles Burck
Miles Aldridge
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