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domingo, 9 de julho de 2017

Olhos Ferinos


Curvo-me, vergo-me, mas não apodreço,
Meço a umidade dos ventos, a quem há muito tempo peleja
Afasto-me dos olhos doces, que tentam coisas me dizer,
Mas o mel de açucena envenena e fecha a garganta da presa,
Curvo-me humildemente devido a ignorância que me permeia,
Tendo aos acenos do saber, que me estendem os braços
Mas esses olhos me acenam também, são feitos de aço banhados em azul
Ou seja o reflexo do céu no polido metal de armadilhas
A boca que brilha o vermelho batom escondendo as presas, aguçam-me os sentidos
Há nos teus olhos a divina presença que condensa o homem incauto,
Revestido de tramas sutis, admirares cáusticos, ou de mel deixar a língua surpresa,
Curvo ao beijar-te os pés, mas os permeios das ancas falam a língua dos menestréis,
Dos paraísos aos bordeis, de tantas piedosas más intenções,
A induzem-me a beber do ventre das águas das profundezas dos astros, os infinitos sumidouros dos céus,
A virgem madura serpente, da maçã que come gente, a redemoinhar como vento querendo induzir-me os passos,
Curvo-me ao lamento dos olhos que choram lágrimas de fulgor difuso,
Mas não bebo do liquido que saliva oferecendo-me os lábios, da substância que me oferta-me o alimentos,
Se bebo, a minha boca morre, as veias secam, e o sangue me consumirá feito vinho tinto fervente
A cozer-me o cérebro, a alma e a vida que ainda esteja a contar-me os dias,
Curvo-me ao amor, as miragens e os desertos, e os teus pés caminham seguindo os meus, atiça-me as areias aos olhos e a pele que me resta, tosta-as ao sol
Desfiei os músculos, e moí os ossos, a carne desfez-se ao contato das tuas,
Padeço aos insanos desejos a deflorar-me as vontades,
Curvo-me enfim ao destino do homem perdido, entregue, como um servo penitente, louco, um demente
E tu ris assim de mim, olhos inocentes, sem piedade


Charles Burck
 Miles Aldridge 

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