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sábado, 29 de julho de 2017

Eu poderia ser um homem sozinho, mas no fundo da música me dividi em dois,
Um homem no trem que não passou, na paisagem servida em doses lentas
O outro que viu a fome espiando dentro o ventre vazio e pedindo dois tostões para te servi o banquete
Dos pequenos pés de trigo tentando brotar o pão,
Da tarde que é desgraça do pirilampo e a alegria da rã 
O trem passou ao largo, cheio e no meio do teu medo a balbúrdia dos corpos apertados
A agonia da moça que sangrou, o filho escorrido no absorvente entre uma estação e outra
E agora que acabaram os trilhos, o céu apagou, o dia de tédio conta histórias aos pedaços,
O que viu o velho em jejum estalando os artelhos e não enxergou bem quando o trem passou lotado
Ele zombou de nós, nos serviu sopa rala e fria, casaco de veludo e bunda de fora,
Doses de estriquinina e nuvens de algodão, comprimidos de homeopatia a preços módicos
O outro eu, nem tinha nascido quando o trem aterrissou,
Faz tempo que me observo, um que sofre e o outro que não se machuca por nada,
Um dia te levarei para conhecer os meus campos de papoulas bem longe da linha do trem
As moradas dos ventos maduros, colher estradas e florescer desertos,
Sei que um te ama e o outro também, um que diz coisas e o outro que se cala,
Um diz que é o teu poeta, o outro que partiu, que no trem do poema embarcou
Charles Burck ,
By Charles Burck 

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