E assim quando em algum tempo de alguma outra dimensão eu
pensar que existo, haverei de ressuscita-la então,
Ao sopro da lembrança de algum visível retrato,
Ou ao espaço de um outdoor na beira da estrada,
E haverei de lembrar como riamos dos acasos,
Dos dias mais chegados aos domingos,
Ou
quem sabe apareça alguém com os olhos espetados no futuro como os teus, que me
chamem a atenção.
Olhos
que admiravam os bichos e as alamedas do zoo,
Ou ao
que eu chore por algum comovente latir de um cão,
Das
noites reviradas sobre os lençóis da minha cama,
Ao
que certo perfume me chegue de um dia desfeito em nadas,
Ressuscita-me também ao compromisso que me trouxe de volta
Aos rejeitar o ócio pelo ócio, se os bons ócios eram os
nossos
Os de
fazer poemas das formigas carregando açúcar, da bunda gorda da Domitila
estendendo as roupas,
Da
calça frouxa do João do mercado, das vezes que cantávamos Pink Floyd de trás
para frente
Aos
que púnhamos o amor de lado para aprender a atravessar os tempos sem nós,
Mas
os exercícios falharam, faz um bocado de tempo que ando só,
A
chutar latas de refrigerantes nas calcadas dos dias quebrados,
A ver
futebol sem saber os times que jogam
Não
quero passar a vida recolhendo cacos de lembranças combinadas
Remendos
de casos e relações vazias, não quero contar os dias aos bocados,
E
fingir atenção ao sorrir de outras mulheres,
Não quero mendigar os afetos que nos enchiam de vidas,
Não quero mendigar os afetos que nos enchiam de vidas,
Ligue os seus canais de buscas, as suas sintonias de
procuras,
O amor pode ser mudo, mas não cego nem surdo,
Alguém sentado sobre os óculos, ou fazendo do livro
travesseiro,
Se ligue em alguém falando sozinho,
Talvez este seja eu recitando os poemas que fizemos para nós
em alguma dimensão do passado, dos bons tempos que eramos nós
Charles Burck
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