À deriva
À deriva
corria a seiva matutina em variações de matizes do mar onde teus olhos
repousam,
Dos risos que percorrem minha pele como rios sem foz e sem nascentes,
Vago demente pertinaz, entre veredas vicinais sem bastar-me no entanto
Satisfaz-me
saber que habitas minhas vidas de agora, e as minhas vidas de depois
Afloras aos tempos das auroras transcendidas a mim, a luz furando as
orbitas dos olhos,
as lágrimas de
banhar as profundezas da dor, inventar uma maneira de se satisfazer em mim,
Mas as saudades persistem, jorram-me em mares e oceanos, em águas de
afogar a sede da alma que busca
Veste-me do negro de sutis filigranas de caminhar nos beirais das
sombras
No banhar das almas que capturam da luz pura às intuições rejeitadas,
No
latir dos cães, nos rastejar das vidas mortas, na carcaça que choram os lobos
que a devoram
Não me doou em lágrimas às ossadas expostas, aos visgos espectrais
A lança atinge
em cheio o peito do mísero animal, o findar da eternidade então chega ao largo
Mas a vida é púrpura bordadas na pele nova, o pó de esmeraldas a
preenche os pulmões sufocados,
À ideia de
coisas cravejadas deslumbra o derramar do verbo,
Nos tempos de
glorias a honra molda em gesso e lama uma flor de pétalas vivas,
Por meus caminhos recolho barros para
manipular os ossos, as fibras de trançar os músculos, os pirilampos de dar viços
aos olhos, a eternitude do amor,
Flor rara na boca dos amantes, nos vãos úmidos da paixão a acarinhar
minhas tolas percepções de bem e do mal,
Tudo é vida onde deito o meu ser, onde Deus se diz gente,
Todos os dias eu preciso aprender a
viver
E a saudade recita poemas para aprender
a morrer...
Charles Burck
imagem : Kinga Britschgi
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