Translate

terça-feira, 4 de julho de 2017

À deriva


À deriva corria a seiva matutina em variações de matizes do mar onde teus olhos repousam,
Dos risos que percorrem minha pele como rios sem foz e sem nascentes,
Vago demente pertinaz, entre veredas vicinais sem bastar-me no entanto
Satisfaz-me saber que habitas minhas vidas de agora, e as minhas vidas de depois
Afloras aos tempos das auroras transcendidas a mim, a luz furando as orbitas dos olhos,
as lágrimas de banhar as profundezas da dor, inventar uma maneira de se satisfazer em mim,
Mas as saudades persistem, jorram-me em mares e oceanos, em águas de afogar a sede da alma que busca
Veste-me do negro de sutis filigranas de caminhar nos beirais das sombras
No banhar das almas que capturam da luz pura às intuições rejeitadas,
No latir dos cães, nos rastejar das vidas mortas, na carcaça que choram os lobos que a devoram
Não me doou em lágrimas às ossadas expostas, aos visgos espectrais
A lança atinge em cheio o peito do mísero animal, o findar da eternidade então chega ao largo
Mas a vida é púrpura bordadas na pele nova, o pó de esmeraldas a preenche os pulmões sufocados,
À ideia de coisas cravejadas deslumbra o derramar do verbo,
Nos tempos de glorias a honra molda em gesso e lama uma flor de pétalas vivas,
Por meus caminhos recolho barros para manipular os ossos, as fibras de trançar os músculos, os pirilampos de dar viços aos olhos, a eternitude do amor,  
Flor rara na boca dos amantes, nos vãos úmidos da paixão a acarinhar minhas tolas percepções de bem e do mal,
Tudo é vida onde deito o meu ser, onde Deus se diz gente,
Todos os dias eu preciso aprender a viver
E a saudade recita poemas para aprender a morrer...

Charles Burck 

imagem : Kinga Britschgi







Nenhum comentário:

Postar um comentário