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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A sombra caminhou na calçada fria, e eu a segui de longe,
Temia o sol de douradas crinas aos galopes de bicho selvagem,
Na porta do supermercado vendia-se amor aos pedaços, a preço de promoção,
Falta-me sabor à memória, o gosto adocicado de nacos de bala de coco,
Não lembro se algum dia provei o presente enfeitado em laços de fitas,
Os girassóis roxos retornam do campo na direção contrária ao sol.
A vida declina, a minha sina é seguir o amor, não comprei da liquidação, parecia ter cheiro de coisa passada,
Mas hoje tudo é assim, a lua, os pardais, as estimas, vergam-se às urgências, ao imediato, nem se tem tempo de sentir os sabores,
Os cheiros exalam-se sem os olfatos,
Os temperos sem as salivas,
Os beijos sem as bocas,
Recuse-me a esse tempo de telefone de emergências,
O sofrimento expresso, sou da velha laia, sofrimento de amor deve ser bem cuidado, se dado ao abandono, esfria sem ser provado,
Na sala de espera, a atendente de cabelos longos me olha de soslaio, Faz-me uma oferta com os olhos, mas uma oferta sem garantias,
Há dias que me entrego aos fatos, mas hoje ainda sigo as sombras,
Dizem que fora dos limites da cidade, tudo é perigosamente voraz
O amor brilha intenso sobre as casas da terra morta
Mas sigo a intuição de que em terreno de cachorro louco, os lobos não fujam da lua,
Aprendi que onde o amor não brota no chão, é preciso uivar nos telhados


Charles Burck 

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