Canto para reconhecer o meu estado d’alma, a fissura por onde
escorro para algum canto de Deus
Não dou alimentos às aves negras que bicam as mortes
incrustadas em nós,
O que nos devora não vê a hora de abocanhar o amor,
A fragilidade dos dias nascidos para acolher os sensíveis
olhares que esperam nem sempre chega a ser noites
Sabes que nem sempre o amor vem, quem sabe estava escrito que
não era para ser assim,
Mas era, mas eu não acredito em todas as histórias, o
desígnio realizador de tudo o que não há
O divino nos corta em pedaços e junta tudo novamente para nos
ver diferentes do que somos,
Às vezes, a cabeça fica embaixo dos pés, os olhos esmagados
no asfalto,
Outras me movo andando de costas antecipando-me ao amor em
suspenso
Os suspiros dos bigodes tremendo, pronto para atacar,
Tudo se perde do seu curso quando ele avança,
Meu coração hesita ao animal vigilante, fibras que estouram e
o gosto do sangue vem à boca
Pronto estou para a fuga,
Deus sabe dos meus vacilantes passos, dos conflitos que me
tomam ao que meu tônus humano estanca a minha parte divina,
A sina dos vícios de ser carne e ossos, os nervos à parte, a
ultima gota de sangue que vacila na ponta da agulha,
Dessa veia romanticamente rasgada, dessa sangria que nunca
estanca, dessa seringa que suga tudo de bom que há em mim,
Charles Burck
Lucia Sarto
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