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domingo, 13 de agosto de 2017

Assim o frio passa, ao aconchego ao passar o lápis na escrita,
Outras vidas, outros sonhos, os mundos desbravados à força do acento,
O vento é um vizinho mudando sempre de lugar, às vezes fala dos meus vazios, mas não reclama porque o imito ventar,
O amor é tanto como o vento, venta, às vezes mais do que o amor aguenta, ventar
Os redemoinhos de pernas de saci, os ventos rabugentos que abanam as minhas orelhas,
Ventos de bedelhos, de artelhos de dedões dos pés  
E eu não vi mais nada, os ventos arrebanharam os meus olhos, carregaram para perto dos teus,
Acho que os ventos ventam saudades, criam imagem de lembranças, perturbam as memórias que estão arrumadas na estante, carregando-me às minhas outras moradas,
Sou, por vezes, cativos, mas não quando escrevo, fico no quarto até anoitecer,
Nervos e ossos mesclados num poema, a pele criando texturas como papeis de preencher corpos,
Aos dias, quando há medidas, tendo a ir até às raízes mais fundas
A abrir os caminhos das águas, os níveis de sede que só se mata se amamos
Se pelo seu sorriso eu me aventurasse agora, achar-me-ia de súbito em profundas e longínquas alamedas
Extraídas ao que chamo, como o vento a arrepiar tua pele,
Eu sei, por certo, que em dias de mais suspeitas paixões o meu coração chega ao teu,
Nas vírgulas, nos pontos, nãos acentos, de todas as escritas, todas sentidamente palavras, carregadas, escritas pelos ventos



Charles Burck

Guido Montañés 

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