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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

O causo da poetisa morta
Aos pensadores de probas línguas em um cintio pestanejar, hão de palrear sonoros devas de formar versos, como conversas entre pássaros e flores, mas nas cópulas dos florejares um hibisco deu descomedimento, nunca imaginei que desarranjo de flores produzisse poemas, mas as cabeça de esmiuçar as filosofias generalistas adoram jardins de múltiplas flores, e as suas contendas.
Prezo muito a erudição, mas a palavra escrita é mera tradução da magia de ver, a grande busca é procurar ser o mais preciso possível, na impossibilidade nascem as tentativas, as razões das conquistas.
Vejo-me a pelejar na manutenção da proeza da erudição, mas sou sovervo ser do sertão, que assombreia calangos e planteia xique xique para matar a fome, antes a da barriga, depois a da versação.
Conheci um fantasma, toda bem ajeitada na beira do açude da Soledade, era uma alma perdida de poetisa lá do sul. Vestia vestido de chita, que por vezes, transparecia a alma dela, feita de sol. Tinha olhos mais doces que rapadura e por vezes sumiam das órbitas, os cabelos longos feito estradas que se perdem na noite, todos mimados de flores em grinaldas de jasmim. Já buli em estrelas desenhadas nos muros como se no escuro fossem do céu, mas os obstáculos de descrever coisas vivas já são uma limitação, imaginem aparição fazendo arte. Deus procrastinou aquela sina, feito uma pajelança de dar tempo ao tempo de absorver a morte depois da hora prescrita. Conversamos em noite seguidas, prosas, liras e conversações dando o sentido à poesia de antropolatria. O espiritualismo explica, mas o coração mexido não buscava explicações, convivíamos ao que a erudição ligava tempos distintos, sem considerações partidárias, quando não nos importávamos em ser, éramos dois seres banhados pelas energias de um encontro estranho, encantados apenas por fato de estar.
Ela me fez um poema, quatro versos pequenos, aparentemente sem lógicas, mas cada palavra posta na areia da margem do açude empedraram e ainda estão lá para quem quiser ver.
“O poema é a alma exposta,
Palavras que não se consegue proferir,
Deixo a você na forma de afeição,
Versos do que eu não pude lhe dizer”
Considerações vindas da flama do coração por ora me geram ondas instáveis, mas delongadas, penso em Hilda Hist, Florbela Espanca, Adélia, Cecilia e Ruiz, quantas passaram por nós, mas disseram que partiram, eu sei que ficaram, os olhos apaixonados de quem versa há uma verdade cindível ao único fato que importa, eu a vi, para já aqui temos é uma metafísica dos níveis de orar, cabe-nos então, não obstante, examinar as premissas resultantes, da verbalização retórica: passaram, mas que vivem, vivem...
Charles Burck


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