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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O causo do Menino Aluado
Cruz credo o menino aluou, despachou para lugar incerto o cérebro e passou a viver de ser sem responsabilidades, a comadre arrancou os carrapichos da bainha da calça, uma luz divina que ensaia Ave Maria de Gouniout, traduzindo do latim, Mãe amada cheia de graça, de asas plenas de cobrir os filhos perdido de ti ecoou do nada. O padre dava conta da falta de batismo, o Onofre do bar, que era filho de lobisomem e mãe desconhecida.
Mas o guri evocava as provocações do inferno logo seguidas das devoções de arrependimentos, aos frios tomado tremia feito vara verde, e a mulherada orava chamando a salvação.
Dai-nos a vida que há de ser, mas se eu for tomado de insanidade que seja de me perder em você, gritava o poeta sem orientação, abstraído do rumo que se dava ao menino pagão.
Tomado de um amargor mais profundo a boca exacerbava o que vinha da dor, a dor mais doida, processada nos recônditos da alma traz a tona um certo furor, mas não conceda a ela mais que cinco minutos de fama. Tudo é rito de passagem, tudo é como aguaceiro que explode em pingos largos, mas o molhado seca rápido depois que passa, tudo passa, eis a mim o que interessa, tudo passa.
Mas com o menino não passou, e ele deu de largar vidências e previsões de deixar Nostradamus a escrever bilhetinho sobre o futuro.
Primeiro falou de Zé José, do cometa que cairia sobre a sua casa, Zé debochou e dormiu de janelas abertas para ver o céu, aconteceu na madruga de noite límpida, quando um açoite queimou o firmamento e esmigalhou todinha a casa tosca e o anexo de fazer farinha. O Zé virou papinha de macaxeira e nem a caveira de grandes orbitas sobrou para mostrar surpresa posta.
Na natureza volátil de todas as coisas, Jacobina mulher devotada e filha da Maria lascou de soltar a sangria da coisa perseguida, não para um, nem dois, mas para os homens da cidade inteira, tudo conforme afirmado pelo menino aluado. E a fama dele ganhou sertão adentro, até que chamaram Jão de Maldonado, o ermitão que tudo sabia, e ele deu feições à história, dizendo que era um esboço, coisa precária é provisória, que seria de inútil procurar a cura para coisa falseada, pois a cura só de dá em doenças de fato, não em armadas loucuras de pinga ventos. Que logo ao lhe fosse mostrado o diagnóstico da coisa forjada que o menino daria laias a outros caminhos fazendo de melhor proveito a juventude ainda em flor. tudo forjado na imaginação de um menino sem prendas, mas o menino aluado cantou sete noites seguidas, uma Ave Maria de entorpecer a alma de nostalgia e a cidade chorou Maria até a ultima lágrima que havia a ser chorada.
E o menino aluado enfrentou Maldonado e lhe falou da menina de quinze anos por ele engravidou e abandonada ao léu, na porta do Bordel do Beija Flor, virou moça falada, disse também de cada mal feito à sua avó Maria que se entristecia quando ele lhe roubava os caramingualdos salários frutos da aposentadoria dela na fabrica de charutos. Falou dos seus doze irmãos, nome a nome na ordem seguidinha de idade e destino, contou dos 50 contos de réis que ele roubou de Amarildo, o cego, perdido na estrada indo para a Feira de Caruaru. Depois disse mais, que ele tinha uma válvula cardíaca arruinada, que possivelmente em menos de uma semana se daria uma derramação de sangue quando a veia estourasse. Maldonado não esperou o menino aluado repetir, pegou o primeiro ônibus translado para a capital do estado e buscou o melhor doutor, no melhor hospital da cidade.
Charles Burck

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