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sexta-feira, 25 de agosto de 2017

O causo das águas encantadas
A cigana dança chamando a lua, o pandeiro de fitas coloridas e o vestido azul adornado
Sou um menino abusado que admirado a olhos escondido no mato
O riacho ficou amarelado, foi o Saci que fez xixi na água, Jandira não gostou, mas ponderou que é só um menino levado, não tem parte com o diabo.
As águas são parte de mim e sempre me visitam em sonhos, águas límpidas, cristalina de se ver o fundo, ou revoltas feitos ninhos de garças azuis preguiçosas, como sonhos decifráveis de quem deve algo ao mar,
Vi tormentas de águas a voarem pelos céus, e ondas a baterem nos rochedos num eternos conflitos, eu me vejo como um pequena concha entre as fúrias da vida. Dá-me serenidade na vida meu Burck Pai das Aguas,
Venha mergulhar comigo e perseguir sereia, roubar escamas da cauda de luz cintilantes e tocar-lhes os bicos arrepiados dos seios.
O que a ti escrevo diante do mar, são contos de saudades azuis turquesa, é o que me resta do arco iris que murchou, posso senti-la onde as ondas descansam aos meus pés, e sorrir a cada lembrança
Esse caminho é mutuo, mas por que tu me chamas sempre se eu não sei a tradução dessa canção carregada nas marés, onde quase sempre o meu barco se perde
Vovó Georgina sentava á beira do rio e brincava com iluminadas pedras vermelhas, dizia que eram contas de meninas deixadas por Deus para marcar o lugar sagrado de fazer pedido.
Fiz um pedido para consertar um pé de ipê roxo que estava morrendo, um braço quebrado do meu pai. Em dez dias estava sarado o ipê e um mês depois ele floriu de quedar os galhos. O prefeito Godofredo cortou a árvore, matou cinco filhotes de viuvinha, uma cambaxirra e um curió, mas é se faz à vida não
fica sem respostas , e ele foi tomado de uma coceira de deixar feridas expostas manchas roxas e penas a sair pelas ventas, até dar a vida a uma centena de passarinhos.
Aqui da minha janela sobre o mar, o silêncio foi quebrado pelos barulhos dos pentes de Iemanjá a pentear os cabelos, cabeleira de cachoeira de espumas douradas, ao chegar a noite, da bordas as rendas ao vestido dela, as estrelas faíscam e brinca de contas e vagalumes que entram floresta adentro pela escuridão.
Quando morre o brilho, fica a réstia de luz que some mansamente
As sombras deslizam uma a uma para longes.
O teu cabelo a murchar na minha mão.
O rio lembra os teus cabelos escuros que tento tatear nos reflexos de uma luz branca,
Sem saber que hoje tem festa da cigana da lua cheia

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