Friorela roeu as
unhas como quem roí os nervos, tornou-se navegante pelo ato de amar o mar,
Pelo desejo de
beber o sal dos ventos
Rurrumou velas
adentro no veio salgado de morder a lua,
Sangrou leite
condensado, Maria Mole e roubou um olho da sogra para fazer feitiço de amor,
Tenho dois dentes
de tigre de sabre, um escorpião açodado na nascente da virgem maior, beijo
melado com gosto de bala vendida no trem, coco e açúcar queimado, leite
derramado e o marimbondo deitado no caixão reciclável de um indigente defunto
que imigrou para o Japão.
Cantei o fado de
torrentes de chover os cântaros de Isis, todos os pecados só são condenados
porque foi pecado cantado, os pecados calados vivem de deleites silenciados nas
tocas das flores.
Margarida penou um
bocado tinha a vulva pequena, quase uma novena de uma ave maria só, mas dois
dedos delicados tocaram o seu ponto sagrado, e os foram consagrados num domingo
santo,
Não tenho mais
espantos com missas e romarias já catei coquinhos de São Luiz a Salvador, e só
me sobraram os dedos sangrados, uma coluna curvada e milagre solicitado nunca me foi pago.
Esconjuro santo mal
pagador, já pus flor na boca de nego safado beberão, e o sujeito virou um
deleite de cidadão, bom esposo, bom pai, ético e honrado, mas de beber parou
não,
Mas se bem me
lembro lá para as bandas do Capão Redondo aparecia uma lenda nua, uma monja que
morreu virgem e que não queria ser pura, assombrando na estrada de noite sexta,
passava feito um acoite e o rouba os pintos desprevenidos, e nunca mais se tem
noticias do instrumento capado.
Mas um soldado
fuzileiro enfrentou a desdita, diziam que ele era pai de quatorze, antes dos
doze, mas agora já tinha trinta e eram tantos filhos que nem se dizia prole se
dizia criação. O cabra engravidou a aparição, deixou de corpo mole a
assombração de tanta meteção, mas em vez dela sumir, piorou a situação, a alma
ficou penada em dose dupla, agora não rouba mais capilé, mas geme de saudades
do sujeito soldado de fuzil armado dando tiro numa direção.
Fiz umas orações de
fazer sumir agonias de mulher na perdição, mas não teve jeito não, hoje mesmo
escutei na noite estrelada, um gemido esticado, alongado feito cipó de
churumela, coisa sentida, de partir o coração.
Mas desses causos a
vida se espalha em mil, talo de buchinha corta efeito de saliências, cura
demência e esfola calo de estimação, mas perdi a razão de dizer o que sei,
perco o fio sem meada, mas bem me lembro que a pedra preta de amolar fio de faca corta mal de
dor atravessada, estio de vaca não engravidada e dá jeito de filha menina casar
mais cedo e regula esquecimento.
Esqueci o jumento
mastruz no final da rua Sacramento, faz dois anos, lembrei agora.
Tenho medo de
morcego cego, de mulher que anda na ponta dos pés, de estrada com curva
descida, já zanzei feito esquartejado, a cabeça ia antes o corpo retardado, os
braços doíam e as pernas não obedeciam, os pés, era um virado para cada lado.
Já contei esse
dobrado de esfolar língua, agora só vivo de sossego, um lote na caatinga, uma
moringa de água fresca, um terno branco bem passado, uma cruz no monte santo
coisa de espantar mandingas, olhos gordos e mulher matreira com olhar de
rapariga.
Tenho um binóculo
de olhar o céu, tem uma estrela que me pisca sempre, eu tenho um olho dormente
que não enxerga bem, mas como o olho que eu enxergo melhor me despeço. Mariinha
logo vem, sempre traz buchada de bode, cuscuz de mandioca. Hoje vamos ter amor
rasgado, sinos tocados sem estrelas e a monja gemendo triplicado.
Charles Burck
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