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quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Friorela roeu as unhas como quem roí os nervos, tornou-se navegante pelo ato de amar o mar,
Pelo desejo de beber o sal dos ventos
Rurrumou velas adentro no veio salgado de morder a lua,
Sangrou leite condensado, Maria Mole e roubou um olho da sogra para fazer feitiço de amor,
Tenho dois dentes de tigre de sabre, um escorpião açodado na nascente da virgem maior, beijo melado com gosto de bala vendida no trem, coco e açúcar queimado, leite derramado e o marimbondo deitado no caixão reciclável de um indigente defunto que imigrou para o Japão.
Cantei o fado de torrentes de chover os cântaros de Isis, todos os pecados só são condenados porque foi pecado cantado, os pecados calados vivem de deleites silenciados nas tocas das flores.
Margarida penou um bocado tinha a vulva pequena, quase uma novena de uma ave maria só, mas dois dedos delicados tocaram o seu ponto sagrado, e os foram consagrados num domingo santo,
Não tenho mais espantos com missas e romarias já catei coquinhos de São Luiz a Salvador, e só me sobraram os dedos sangrados, uma coluna curvada e  milagre solicitado nunca me foi pago.
Esconjuro santo mal pagador, já pus flor na boca de nego safado beberão, e o sujeito virou um deleite de cidadão, bom esposo, bom pai, ético e honrado, mas de beber parou não,
Mas se bem me lembro lá para as bandas do Capão Redondo aparecia uma lenda nua, uma monja que morreu virgem e que não queria ser pura, assombrando na estrada de noite sexta, passava feito um acoite e o rouba os pintos desprevenidos, e nunca mais se tem noticias do instrumento capado.
Mas um soldado fuzileiro enfrentou a desdita, diziam que ele era pai de quatorze, antes dos doze, mas agora já tinha trinta e eram tantos filhos que nem se dizia prole se dizia criação. O cabra engravidou a aparição, deixou de corpo mole a assombração de tanta meteção, mas em vez dela sumir, piorou a situação, a alma ficou penada em dose dupla, agora não rouba mais capilé, mas geme de saudades do sujeito soldado de fuzil armado dando tiro numa direção.
Fiz umas orações de fazer sumir agonias de mulher na perdição, mas não teve jeito não, hoje mesmo escutei na noite estrelada, um gemido esticado, alongado feito cipó de churumela, coisa sentida, de partir o coração.
Mas desses causos a vida se espalha em mil, talo de buchinha corta efeito de saliências, cura demência e esfola calo de estimação, mas perdi a razão de dizer o que sei, perco o fio sem meada, mas bem me lembro que a  pedra preta de amolar fio de faca corta mal de dor atravessada, estio de vaca não engravidada e dá jeito de filha menina casar mais cedo e regula esquecimento.
Esqueci o jumento mastruz no final da rua Sacramento, faz dois anos, lembrei agora.
Tenho medo de morcego cego, de mulher que anda na ponta dos pés, de estrada com curva descida, já zanzei feito esquartejado, a cabeça ia antes o corpo retardado, os braços doíam e as pernas não obedeciam, os pés, era um virado para cada lado.
Já contei esse dobrado de esfolar língua, agora só vivo de sossego, um lote na caatinga, uma moringa de água fresca, um terno branco bem passado, uma cruz no monte santo coisa de espantar mandingas, olhos gordos e mulher matreira com olhar de rapariga.
Tenho um binóculo de olhar o céu, tem uma estrela que me pisca sempre, eu tenho um olho dormente que não enxerga bem, mas como o olho que eu enxergo melhor me despeço. Mariinha logo vem, sempre traz buchada de bode, cuscuz de mandioca. Hoje vamos ter amor rasgado, sinos tocados sem estrelas e a monja gemendo triplicado.



Charles Burck 

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