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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

O causo da menina em fogo

O cão ladra e o bode fede, a catinga do enxofre alastrou-se no átrio da igreja, pegou fogo nas cortinas do confessionário e uma chama vermelho e amarelo dançou feito azougue na porta da casa de Dona Helena.
O céu adernou e o mundo soçobrou aos ventos, coração desatento colhe o que sobra
Versei mi vezes sobre o amor e ele nem ligou, comeu sopa de queijo coalho com couve flor e mungunzá de milho novo, a quem tem bons dentes qualquer carne velha serve, mas a direção da razão pede filé mignon bem passado, se possível feito na manteiga..
Já fiz experimento com fórmulas de arnica e pimentas sortidas, urtigas de folha grossa e sal de rosa, uma mandinga de chamar chuva, choveu, choveu, mas alagou tudo. O sertão precisava de chuvas e ficou muitos anos sobrando água.
Já achei diamante à flor da terra e esmeralda no riacho de águas turvas, mas o amor é um tesouro feito ouro e água benta.
Padre Zezinho fez novenas para as meninas perdidas, as moças adotivas de Santo Antonio, algumas apareceram paridas e deram culpas ao santo, mas Padre Zezinho sempre desconfia do tal demônio Aleixo, de mangueira torta, cabeça arroxeada de sangue pisado e calças frouxas, que corre pelas ruas do povoado no dia de São Valentim. Eu fiz um riscado no fundo do quintal da Helena, a filha anda atentada, as coxas roliças assadas de esfregar uma na outra. A binxidiba esfogueada, eletrificada de acender a casa toda sem precisar de energia elétrica. Ave Santa Madona, a energia é tanta que a moça revira os olhos, pode parecer que possessão, mas não é não, é só fogo solto, precisão.
O manacá para dar semente precisa dar a flor, mas a rosa inchada, de febre tomada precisa ser molhada de hora em hora, óleo de menta e quinado melhora, mas tenho receios que combustível sobre chama possa dar labaredas de torrar a piroroba. A pixundeba vaza tanto que as águas de alvura plena, escorrem pela cama, ganha a rua e formam riachos, logo acho que precisara de barragem de contenção, mas o diacho é que desfolhei um cesto, uma maçaroca de folha de aipim, dizem que é bom para a amansar excessos de escorrimentos, mas e moça prefere a mandioca com casca e tudo. Cruzes deuses dos desassossegos, não sabemos mais o que se há de fazer, mas por certo o melhor dos conselhos é da bisa Açucena, com seu sorriso maroto e atento que diz: porta fechada não entra vento, abram a janela de espiar dentro e deixem entrar o sereno.
Nestes tempos de lua cheia e estrelas fazendo riscados, as metáforas de assentar rachadura em carne viva, creio que o tal do sereno é o Raimundo, menino bom e esperto, que por certo, pôs a cabeça de olhar janela por dentro, mas não é que andor não desandou, a menina até serenou.
Pau de bate em doido não escolhe lado, hoje enfim dormirei sossegado ao lado de uma boa menina, é por falar em amor, feche os olhos e conte até cem, se ele não vem e você sentir algum roçado, faça uma oração corrida, vire de lado, pode ser o tal Aleixo se assanhando nos seus costados.
Charles Burck

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