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terça-feira, 6 de junho de 2017

Poema de Charles Burck na revista Sinestesia de junho

Caiu uma parte da lua, disse o menino de olhos tristes
Os olhos do céu perderam um tanto do brilho,
A três quadras daqui nasceu um guri, minguado feito beija-flor, 
A mãe pôs o nome de Sereno, mas já há uma chamada Bruma,
Sendo eu escolhia Maria, é tão simples quanto um beijo de amor
Quanta ausência de sol no trato da vida,
Criança deveria ser isenta de dor
Por que os meus olhos choram ao desenhar os olhos delas?
A água da chuva adormeceu na madrugada,
A folha da arvore morta se pendurou no varal,
As crianças cantam cantigas de rodas, cantigas antigas,
Onde será que aprenderam?
Será que o mundo deu volta atrás?
Foi Deus que as ensinou a rimar?
A alegria entre elas é erva daninha, cresce rápida
e se espalha no meio do cercado,
mas dão flores cheirosas de almas remotas.
Cheiro de xixi e sorriso infantil
Que mundo encantado é esse no meio da minha rua?
Um menino vermelho num corcel dourado,
Um menino sem sombra no cavalo alaranjado,
Uma tem cabeça de cristal e brinco de perolas,
O outro faz violinos de papel, e toca com varas marmelo,
Pretendo dormir um mês, todos os trintas dias de uma só vez,
O que será que mudará no mundo?
As crianças perderão os seus sonhos?
Vou prestar a atenção nos sonhos que tenho, uma penca deles
Cortar os cachos da aurora e abrir a caixa de Pandora,
O meu coração é pequeno não maior que uma ameixa, mas cabe tantas coisas dentro, quando brinco de dizer tudo flui
Vou aproveitar enquanto durmo para desviar dos pingos da chuva
e jogar as pipas ao vento
Quem sabe se no sonho eu volto a o ser menino que nunca fui...

Charles Burck
Rio de Janeiro - RJ

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