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domingo, 25 de junho de 2017

No quintal da casa antiga, havia um pé de canela que sempre dava topada no pé da cama,
Na casa do pai tudo era possível, as unhas dos pés de galinha pintadas de esmalte rosa, as vacas de batom vermelho
O chá de capim limão enternecendo a vida, o cheiro do milho verde abraçado com o coco na forma do bolo
As fotografias antigas que vinham à mesa experimentar o café coado, o pó usado jogado nas raízes das laranjeiras
O trico da minha avó tricotando a noite, o inverno sentado aguardando os casacos
Tudo respirava equilíbrio, mesmo na dor
As histórias não precisavam serem contadas, transitavam entre nós,
A saudade não batia na gente era amiga de ficar
A dispensável cronologia das coisas não nos perturbava o tempo, os fatos ou as épocas
Tudo se falava na sala de estar,
A cadeira de balanço ainda me embala, no ruído dos afagos, as simplicidades riscando o soalho
O sol se fazia de janela, abria-se ao amor que atravessava por nós
O amor tem várias formas, fala por poemas, escreve por lembranças, fala de improviso, mas é a absoluta redundância do afeto que habita a casa antiga é que nos fala mais perto


Charles Burck


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