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sábado, 25 de março de 2017




Às vezes o mormaço cobre de brumas o que eu vejo,
Os porquês somos nós mesmos vasculhado os ossos, os depósitos de velhas histórias
As pessoas assomam à mesa se serem convidadas,
Ninguém pode mudar a vida que eu não tenho, a não ser eu mesmo
O rumo dos dias navega entre vagas e marasmos frequentes,
A vida parecia sobrar e os espaços encolher.
O galo cantou as dez para onze, o atraso causou-me ligeiro desconforto,
Os fantasmas das minhas histórias ajustaram o relógio do tempo,
E de tempos em tempos saem do fundo duma gaveta.
E o tempo se esgota, a barriga amedronta, os cabelos desbotam, a porta range suas velhas ferrugens,
A identidade perdida no meio dos antigos papeis,
As fotografias que julgávamos perdidas surgem amareladas,
O diploma de acomodar numa rede ainda tem valia,
O anel de doutor é um escracho memorável, o dedo engordou
Eu tenho a sensação que ando irônico demais,
A minha analista falou que o ponto de equilíbrio é o centro,
Fiz um circulo no quintal, me pus dentro e nada mudou
Continuo ácido, nessa minha alquimia que me ferve o sangue,
O que eu desejava então...? Afinal eu estivera assim, neste lugar que agora me parece ser o mais óbvio, por tanto tempo.
Vazando o ópio, a visão turvada de tanto enxergar o que não me serve,
A cheirar a bolorenta poeira que nunca se assenta
Preciso parar de me enganar, rasgar os ternos pretos, fazer uma faxina por fora e por dentro, uma lavagem geral.
É o tempo de revirar as coisas, descobrir espaços, arrancar os nos da garganta, a velha gravata vermelha já não cabe mais,
O velho pijama de calças curtas não se deita mais com a camisola de renda
Tirar o mofo antigo, arejar os caminhos e me abrir às coisas mais novas,
A simplicidade de nada querer, nada desejar, as prateleiras já estão cheias de tralhas,
E as traças gostam de comer velhas histórias


Charles Burck





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