Às vezes o mormaço cobre de brumas o que eu vejo,
Os porquês
somos nós mesmos vasculhado os ossos, os depósitos de velhas histórias
As
pessoas assomam à mesa se serem convidadas,
Ninguém
pode mudar a vida que eu não tenho, a não ser eu mesmo
O rumo
dos dias navega entre vagas e marasmos frequentes,
A vida
parecia sobrar e os espaços encolher.
O galo
cantou as dez para onze, o atraso causou-me ligeiro desconforto,
Os fantasmas
das minhas histórias ajustaram o relógio do tempo,
E de
tempos em tempos saem do fundo duma gaveta.
E o
tempo se esgota, a barriga amedronta, os cabelos desbotam, a porta range suas
velhas ferrugens,
A
identidade perdida no meio dos antigos papeis,
As
fotografias que julgávamos perdidas surgem amareladas,
O
diploma de acomodar numa rede ainda tem valia,
O anel
de doutor é um escracho memorável, o dedo engordou
Eu
tenho a sensação que ando irônico demais,
A
minha analista falou que o ponto de equilíbrio é o centro,
Fiz um
circulo no quintal, me pus dentro e nada mudou
Continuo
ácido, nessa minha alquimia que me ferve o sangue,
O que eu
desejava então...? Afinal eu estivera assim, neste lugar que agora me parece
ser o mais óbvio, por tanto tempo.
Vazando
o ópio, a visão turvada de tanto enxergar o que não me serve,
A
cheirar a bolorenta poeira que nunca se assenta
Preciso
parar de me enganar, rasgar os ternos pretos, fazer uma faxina por fora e por
dentro, uma lavagem geral.
É o
tempo de revirar as coisas, descobrir espaços, arrancar os nos da garganta, a
velha gravata vermelha já não cabe mais,
O
velho pijama de calças curtas não se deita mais com a camisola de renda
Tirar
o mofo antigo, arejar os caminhos e me abrir às coisas mais novas,
A
simplicidade de nada querer, nada desejar, as prateleiras já estão cheias de
tralhas,
E as
traças gostam de comer velhas histórias
Charles
Burck
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