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sábado, 25 de março de 2017

Pequenos Feitiços


No dia seguinte, depois da chuva, saíamos para pisar nas poças
Olhar os estragos feitos pelas águas, a mata ciliar abatida,
O dia ficava diferente com as coisas úmidas,
A curva do leito do rio mudou de lugar,
Íamos sempre acompanhados de surpresas que aconteceriam
Aprendendo a procurar a magia que não se mostrava evidente
Ela tinha um jeito de bruxa e de fada quando me falava do poder das pedras e dos cogumelos,
Das folhas que adoeciam ou curavam
Dos frutos que tiravam a dor
Sabia que tinham chuvas pratas e chuvas marrons,
Ela tinha cânticos de amor a natureza e rabiscava no chão histórias antigas de nós,
Riamos como quem entra num livro e os personagens éramos nós,
Tinha o dom de ouvir com os olhos, cada frase minha dita
De se atentar aos meus pequenos descuidos,
De varrer o pó tanto de fora quanto de dentro
Os olhos dela se lembrava mais, sabia mais,
Os olhos que diziam mais do que quaisquer palavras.
A chuva voltou
Ficamos calados, apenas a ouvíamos cantar sua ladainha de lavar a vida
Tantas promessas havia em nossos silêncios, tantas vezes neles embarcávamos
Viagens de não mais esquecer.
Pequenos feitiços de cuidarmos de nós
e a chuva sabia disso, e cantava também a isso




Charles Burck



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