Pequenos
Feitiços
No dia
seguinte, depois da chuva, saíamos para pisar nas poças
Olhar
os estragos feitos pelas águas, a mata ciliar abatida,
O dia
ficava diferente com as coisas úmidas,
A
curva do leito do rio mudou de lugar,
Íamos
sempre acompanhados de surpresas que aconteceriam
Aprendendo
a procurar a magia que não se mostrava evidente
Ela
tinha um jeito de bruxa e de fada quando me falava do poder das pedras e dos
cogumelos,
Das
folhas que adoeciam ou curavam
Dos
frutos que tiravam a dor
Sabia
que tinham chuvas pratas e chuvas marrons,
Ela
tinha cânticos de amor a natureza e rabiscava no chão histórias antigas de nós,
Riamos
como quem entra num livro e os personagens éramos nós,
Tinha
o dom de ouvir com os olhos, cada frase minha dita
De se
atentar aos meus pequenos descuidos,
De
varrer o pó tanto de fora quanto de dentro
Os
olhos dela se lembrava mais, sabia mais,
Os
olhos que diziam mais do que quaisquer palavras.
A
chuva voltou
Ficamos
calados, apenas a ouvíamos cantar sua ladainha de lavar a vida
Tantas
promessas havia em nossos silêncios, tantas vezes neles embarcávamos
Viagens
de não mais esquecer.
Pequenos
feitiços de cuidarmos de nós
e a
chuva sabia disso, e cantava também a isso
Charles
Burck
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