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quarta-feira, 29 de março de 2017




A impressão de estar me vendo passar
Torna-me a visão externa a mim
O lento espanto me assegura que eu vivo fora,
Agora eu tenho a certeza que vivo,
O espanto que se repete, é um novo atributo de pensar,
Povoo a vida em dois espaços,
Nas duas vidas inteiras, ou mais?
E a cada momento me fragmento mais,
Sou o vicio de noite de estar acordada,
Se repartindo em estrelas,
Do dia de ter a visão mais clara de si,
Ou sou eu o espanto de mim?
Sou a fuga e o refúgio,
Às vezes sou tudo, outras sou nada,
Quando penso que tudo sei, nada sei,
E de repente saio sem deixar marcas,
Rompo as fronteiras, entre o que sou e o que serei,
E sento no muro caído, onde nada me atinge, nem passado nem futuro,
E observo
Meu sonho é agora, feito aurora, de diversos matizes,
Alargando a estreita faixa de ser,
Espero
A espera do que sobra de nós,
Ficamos os dois calados,
Sem preocupações, nessa elegia dual,
Nessa substância que exala, receios,
Dois sóis no céu
O sono de nunca dormir,
As manhãs que nunca amanhecem
Intenções, sobras, palavras não ditas,
E a esperança dormindo entre nós.

Charles Burck



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