Ela sempre me pareceu um mistério,
Era uma menina de minha infância,
cabelos cor de cebola, e as tranças trançando lembranças,
Um dia eu a vi passando, tentando
se equilibrar nos saltos altos dos sapatos da mãe,
Os meninos tinham a intenção de
zombar, mas faltavam coragens ao encarar os olhos de onça,
Ninguém se mexia até ela sumir na
esquina,
E eu a admirava solene
Tenho na imaginação rascunhos de
cartas escritas em branco, todas para ela,
Algumas rasgaram meu coração mal
preparado para tanta emoção,
Todos os dias eu passava diante da
casa dela,
E a via por trás das cortinas que escondiam
vislumbres de poemas.
Era como se eu tivesse lendo ela, e como se toda a vida morasse lá dentro.
Era como se eu tivesse lendo ela, e como se toda a vida morasse lá dentro.
Ela tinha o dom de conferir
madrugadas insones a mim, a conjecturar sobre como seria me dirigir a ela,
Dizer uma palavra sequer, apenas
uma que configurasse uma ligação, ainda que momentânea,
Os cheiros contam histórias, o
cheiro dela que eu nunca senti, também,
O sorriso que eu nunca ganhei
É tudo o que eu guardo dela, parece
pouco, mas ela foi o meu primeiro amor de criança,
Mas, outro dia eu a vi na igreja,
de véu branco sobre a cabeça,
Nada usual, mas no seu ato de
respeito ao lugar, pareceu-me ela, a santa
Eu a admirei de perto, sem os medos
de sempre, e ela me sorriu,
O mundo mudou de lugar, e os sonhos
de sempre voltaram
Juro até que Santo Antonio me
piscou um olho, e me sorriu também
Charles Burck
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