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sábado, 8 de abril de 2017

Ela sempre me pareceu um mistério,
Era uma menina de minha infância, cabelos cor de cebola, e as tranças trançando lembranças,
Um dia eu a vi passando, tentando se equilibrar nos saltos altos dos sapatos da mãe,
Os meninos tinham a intenção de zombar, mas faltavam coragens ao encarar os olhos de onça,
Ninguém se mexia até ela sumir na esquina,
E eu a admirava solene
Tenho na imaginação rascunhos de cartas escritas em branco, todas para ela,
Algumas rasgaram meu coração mal preparado para tanta emoção,
Todos os dias eu passava diante da casa dela,
E a via por trás das cortinas que escondiam vislumbres de poemas.
Era como se eu tivesse lendo ela, e como se toda a vida morasse lá dentro.
Ela tinha o dom de conferir madrugadas insones a mim, a conjecturar sobre como seria me dirigir a ela,
Dizer uma palavra sequer, apenas uma que configurasse uma ligação, ainda que momentânea,
Os cheiros contam histórias, o cheiro dela que eu nunca senti, também,
O sorriso que eu nunca ganhei
É tudo o que eu guardo dela, parece pouco, mas ela foi o meu primeiro amor de criança,
Mas, outro dia eu a vi na igreja, de véu branco sobre a cabeça,
Nada usual, mas no seu ato de respeito ao lugar, pareceu-me ela, a santa
Eu a admirei de perto, sem os medos de sempre, e ela me sorriu,
O mundo mudou de lugar, e os sonhos de sempre voltaram
Juro até que Santo Antonio me piscou um olho, e me sorriu também



Charles Burck 


















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