Translate

segunda-feira, 24 de abril de 2017

O hiato entre as exigências, reticências indefinidas...
Um chamado, os ouvidos da alma atentos,
Falas que não deciframos, afagos de Deus,
Quem voa mais perto de nós?
Captadas respirações e traçados espirituais
As linhas do horizonte nas mãos tecendo ternuras,
A vontade de começar tudo de novo…
Farto de reconhecer absurdo do que é sonhar
Esse medo estranho de que a palavra desfaça as memórias,
A música que nós gostávamos, o ritmo da melodia nos diz tanto de tudo
Repetidos sons dentro de mim, como poemas de amor,
Nos exageros dos poetas quando amam
Daí é um pulo para saudades presentes, as que já temos e se somarão às que ainda teremos,
Os amantes que se afogam em beijos e que teimam em morrer sem ar,
Os ouvidos de ouvir a mesma canção de tempos em tempos,
De estações distantes, de longas elevações que guardam as energias de nós,
Forjando novamente tempos de encontros, mas, desta vez, em novas moradas
Charles Burck
Eu te amo! Eu te amo com todas aquelas melodias soando no meu íntimo…
Abrindo a porta para que o sol tome posse de mim,
A louca cabeleira dos salgueiros chorões solta ao vento,
Há um momento que tudo para e sabemos que a respiração da vida está em suspenso,
Cada rumor de barulho travado no ar, a minha intenção de falar, mas calada em respeito ao silêncio, 
Elaboradas lembranças que chegam declamando verso que havíamos esquecido
Uma canção desconhecida, de alaudes e bardos de pés descalços entre as folhas secas dos bosques,
Talvez tenha achado tudo tão bonito para que se interrompa,
A inspiração na cabeça e o amor na ponta da língua,
Um teste para as dimensões do amor se expressarem
Minha voz soa exatamente signo de mim, loucos desígnios na pele a aprumar tatuagens
Sons que vazam suores, a memória liquida de parte de um poema lido em algum lugar que não me lembro onde:
Os beijos que partem e voltam, as bocas eternas que não se saciam nunca,
Os duendes,fadas e elfos, cantam essa história de amor de sempre, ainda que o tempo se acabe,
Ainda que nada na vida tenha voz,
Aos ouvidos que se tapem,
Soarão bem forte na energia de um juntar de peitos, e nos olhos que se doam,
A alegria repetindo o refrão,
Eu te amo, eu te amo
Desde lá dos primórdios dos tempos
Charles Burck
E eu tentei fugir de novo,
A malas estavam sempre prontas ao chamado da felicidade,
A gente não parte sem o ir da alma,
Os amante buscando um beijo que não terminasse nunca
Os olhos no horizonte que não se sabe
Mas tudo é parte da ida,
A meninice, a Maria Fumaça, a infância, tudo parte sempre,
Eu não queria partir de mim, mas você me deixou antes...
Charles Burck

domingo, 16 de abril de 2017

Se ao menos a saudade sangrasse, eu me esvairia
Todo um ser em sangue,
Se a dor fosse só a carne da carne
Que se sossega matando,
Dar-me-ia ao sacrifício dos homens
À lamina que lacerasse
A face que se esfrega na pedra,
A dor que desanda sofrer,
Dor visível de doer,
Rio vazante, itinerantes na alma,
Ah dor,
Se ao menos essa saudade me sangrasse...

Charles Burck


Foi para ti que colhi palavras inventadas,
Formas criadas de amar mais profundamente,
Chuvas que chovi para florescer o mundo,
Por ti plantei perfumes novo de flores nem nascidas,
Construi tantas coisas do nada 
No toque do talhe o sabor de saber mais de ti
Doo-me em alma e ser,
Onde nada diverge, fui forma e verbo,
A síntese de saber o que buscava
Do coração sabe-se o mundo desmascarado,
Esta é a madrugada que eu esperava
O folhear do tempo emergindo de nós,
Inteiro e limpo, foz do silêncio
O livre habitar que vamos descobrindo sem pressas



Charles Burck



Fui descoberta de mim,
Ao deixar-me
A casca sendo formada das feridas obtidas,
Fui me saindo dos umbrais,
Além dos pedaços deixados em sementes
Os segredos não cabem nas manifestações de sermos,
Não podemos ser poucos, somos vários,
Ver-me no quem me ousei,
Eu me vi morto nascendo
Aves sem asas compelida a voar,
Era tudo verdades de mim,
Que pacientemente comecei a ver...


Charles Burck 


As ritmadas batidas do coração



Permanecia assim olhar admirado, mudo, distante, tentando compreender o navegar dos leitos dos rios, 
Fragmentos das nascentes vindas do fundo do chão, as ritmadas batidas do coração falando sem dizer palavras
Tudo nas suas efemeridades presentes,
 
Os nadas de cada um, 
O saber que não dói quando contemplado de frente, 
A compreensão do que somos nos conforta, 
Há frases que não doem ao momento de existir, pela certeza do conforto
Dentro de canções que desenham no ar nossas causas e propósitos, 
O gato sou, sobre o telhado da vida, mirando a luz da lua em êxtases
Longe dos cães e dos ratos, das profundezas dos abismo
O céu das tempestades hoje está tão límpido, 
Desdenhando fazer perguntas que não me tragam respostas, 
Melhor mirar a lua me contando histórias, 
O quintal é esse portal aberto para tudo, a possibilidade de todos os lugares, 
As lembranças fincadas no arado e nas flores, 
O chão fecundado, a terra tratada com mãos e orações 
Uma linha desenhada no chão para me lembrar o sentido do caminho, 
Derrubei os muros, deixei os espaços livres para que os ventos, 
avisem-me das chegas, 
As vontades surgem e o respirar sai mais profundo, de dentro, intenso, imenso
Aqui coleciono pétalas no olhar, invoco o nome dela como prece.
Uma prece que os anjos um dia me ensinaram num tempo muito distante
Charles Burck



Era uma solidão inteira, acompanhada de uma meia garrafa de vinho,
Mas não incomodava, o limiar da vida é feito de transcendências,
Caminhamos sozinhos, ainda que nos demos as mãos,
Somos cada um uma tarde que, às vezes, se encontram
Há nessa junção prazeres, trocas e amplitude das tardes.
O pássaro vagueia, mas permeia o céu entre a fome das frutas,
E o desejo das águas e o prazer de voar,
O reencontro com sua essencial natureza,
Reencontro o poema perdido na gaveta
Fundamental caminhar sem carências do desenrolar do tempo,
Saber o que amamos tanto o real quanto o imaginário,
Que somos os olhos rasos de imagens juntadas de mil pedaços,
Relevante experimentar-mo-nos com amalgama de intensidade
Partilharmos tempos comuns, tempos só nossos.
Particulares, na carência de elaboramos silêncios,
Por vezes conversas de olhares, de afastar as incertezas,
Hoje deitei-me ao teu lado, o seu corpo perfeito,
As linhas de projetar horizontes e relevos onde amanheço,
Onde há a fusão de nós, a solidão nunca nos preocupa,
Sabemos a hora de usa-la, sempre da forma certa



Charles Burck 





sexta-feira, 14 de abril de 2017

Deito-me muitas vezes no teu colo e me deixo ser menino
Não saber-se.
Nem sempre te conto das minhas dores, mais sei que as sente
Estou entregue de alma e de corpo
Tudo é muito mágico e cheio de mistério para mim.
Talvez tenha sido essa a razão de termos ouvido o chamado
Onde nem o vento passa onde tu passa
Tudo é apenas tu,
Tendo-me separado de profetas, mágicos e deuses 
Para ficar sozinho ante a esse amor pronunciado
Ante o sossego e o abrir-se das flores em primaveras,
De tudo que era tão ausente se preenche de ti,
Ao pousar-me nos ombros o contato da tua mão
Foi preciso criar um mundo,
A ti eu criei dias e somente a ti amanheço,
Num florir ordenado de estrelas e noites ao nosso sono,
Ao meu coração que descende das moradas estelares,
Povoei planícies e vales para alem dos silêncios milenares
Tudo me passa como nos sonhos,
 Sem temor de amar nesses tempos selvagens,
Não me dou ao abandono ao medo, ao arremedo das faces que zombam
Nem atenção às ironias dos fracos,
O amor é o que me cabe, é onde me caibo e onde te amo, floresço..



Charles Burck 

Imagem Alexander Sulimov

Eis-me despido de todos os meus amantes,
Antes eram tempos de buscas, das marés incessantes,
Tendo-me desnudado de todos os desconfortos,
Dos erros da vida só pelo provar dos corpos, a fome,
Fiz-me separado das alegorias coloridas e das falsas magias dos olhos
Dos deuses mambembes, das celebrações das personalidades itinerantes,
Quedei-me assim à luz dessa fronte estrelada,
No salão das verdades limpidamente espalhadas,
Que nenhum deus renegue o teu nome
Não há experimentações, mas um trato de sentimos tudo que nos emana,
Penso que sim há entregas sem os pesos dos erros, mergulhos mais profundos
Para além da existência caminhamos
Onde pararemos?
Não nos momentos sem eternidades,
Tudo se fartando num grito perdido nas urgências das ânsias,
Espargindo a memória das cores, o êxtase que estava guardado à sua espera
Um reconhecer-se ao mirar-mo-nos no espelho das semelhanças das faces
Uma troca de intimidade na vassalagem amorosa.
Banhar-se o corpo que a ausência mantinha secreto
Cada doar a alma a surpreender-nos
Dar-mo-nos as mãos e caminhamos ao sol de dentro.
Aos cenários internos que se descortinam em artes, às nossas mãos tremulas ao se unirem
Havíamos de nos salvarmos e convocarmos as claridades remando sobre as nuvens para aprendermos com os anjos.
amo-te desde sempre, agora sei que mais, quando navego nas histórias que recolhi nos tempos
Nos traços que do teu sorriso que vieram me contar
Tudo estava guardado, e o teu carinho me faz terno e agradecido
Hei de viajar, agora, sempre
Na vontade do rio mais doce e infinito, no livre amar, do navegar nas rimas e remos
A saber-me de ti, aqui fluindo tão dentro de mim

Charles Burck

A madrugada nos esperava de braços dispostos,
Apesar de caminharmos pelas veredas da morte,
Temos a sorte de estarmos juntos,
Desfiando os sentidos das desilusões,
O poder dos sonhos é tão forte, 
Que de tudo se refaz aos nossos olhos
E a madrugada espera,
Emergimos da noite e do amor onde hibernamos,
nossos corpos,
As almas vieram antes, sabiam de nós,
As mãos unidas em respiração comum
Sempre me contam essa história
Charles Burck
Doo-me às chuvas para saber das águas,
De como se chove e chover,
De beber a sede e escorrer,
De no vazar da sensibilidade
Deságua a alma

Charles Burck



quarta-feira, 12 de abril de 2017

Como gosto dessa maneira de amar, meu amor,
De chegar mais cedo, antes
Para admirar a beleza espalhada dos teus cabelos,
Beber desse desejo que jamais passa, da água fresca do teu regaço,
Excitar ainda mais essa expectativa, para saber os limites de nós,
A de preparar o amor como um presente que nos damos
A troca desta certeza de que tanto gostamos de sentir,
 Fui em tua janela, para respirar maresia…
Cheiros dos sonhos do mar em meus olhos de esperança
O coração ao limite da boca pronto a viver o dia,
As surpresas de sempre de fazer amor

Como se tudo fosse de novo a primeira vez

Charles Burck

Quero romper essa pressão das horas,
Essa pressa aflitiva, dos segundos cutucando-me,
Quero tocar você de todas as formas,
recriando mundos que tantas vezes inventamos,
A fronteira das bocas coladas,
O instinto das línguas deletando palavras,
Sem ser preciso saber quem somos,
Se a nossa casa é nossa,
Somos nós que nos moramos
Sem as pressas do tempo formulando o que é nosso,
Sermos a suavidade eterna,
serenos modos de sermos nós
Demarcando o espaço que nos pertence
Ligue a música, o som que nos complementa
Os reflexos do sol no quarto,
Toma a minha a mão e sirva-se de mim,
Dança um tango de colar os corpos,
De olhar nos olhos sem nada mais em volta,
De unir as mãos
Embebede-se de nossa canção, bebidas amorosas, o amor em pequenos goles,
A vida feita de delicadas portas de entradas, de dentro conhecer,
Quando já sabemos do teor das almas,
E bom ouvir o que ela nos fala, apenas como forma de nunca esquecer,

Charles Burck 




Mas a vida ganha espaços novos quando tudo muda de lugar,
A cada instante o tempo é outro, e tantas coisas viram sopros limpando a alma de tantos resíduos,
É um vento levando abraços perdidos, beijos não dados, despedidas repentinas,
Então você entende um pouco mais sobre as faxinas e sobre a vida,
E o dedicar-se a cultivar afagos e perdões ao invés, de magoas e aflições,
É uma morte das coisas desnecessárias para novas nascenças,
Barcos de fundos rachados retirados do cais para outras atracações,
Enganam-me apesar de tudo as palavras que nunca dizem tudo
Quantas vezes elas nos iludem aos nos negar as verdades interiras
Há dias em que esse vento morno são artifícios, a negação das coisas mais simples e verdadeiras
De silêncios que insistem em dizer o que eu não queremos ouvir.
Ou de gestos que não sustentas os sentimentos mais profundos,
Sou pássaro e voos suaves, de alcances longos e de altas altitudes  
Há dias que a vida são voos feitos de pássaros de detalhes,
De horizontes que nos esperam no batente da janela
De confiar que os cantos voltem, e os encantos aflorem no limiar entre esse e o outro mundo
Que o coração traduza os desejos até o próximo voo.
De amar-se sem convulsões, serenar-se ao ser planícies de ver mais longe
 O dizer tudo apenas no gesto de olhar com mais apuros e atenção



Charles Burck 







domingo, 9 de abril de 2017



Nunca, é assim mesmo, faz de conta que não volta, mas está presente ao que dele falamos,
Saber, ainda que longe, que os teus pés caminham sem mim, é correr o mundo contigo,
Dançar o que não me cabe, trocando voltas de passos marcados ao que os dias me deixaram.
Não importa se fostes, a partida nem tudo nos leva, se a conclusão é que daqui nunca saíste, fica então.
Nem mesmas as tuas recusas descerram os teus braços, se os teus olhos se renunciam aos meus, ainda te vejo a não me olhar, e a eles pertenço
O deitar ao teu colo é uma forma de ser, o tecido que se esgarça, mas que ainda cobre a nudez. Como se desfaz o que é?
E os sonhos são sementes que brotam, frutificam e apodrecem, mas a terra tece as sementes que caem e dão vida de volta ao ciclo vital.
Germinam no ventre da gente e precisam de cuidados, como filhos amados, famintos pedindo o seu quinhão de alimento e vida,
E te sugam e te mordem, te comendo os pedaços,
Do outro lado é o futuro, um tempo que sabemos depois, mas que sempre chega antes se nele pensamos,
Um tempo que somaremos aos que tivemos, tempos colhidos aos que me nos restam,
Formatando o teu sorriso como se esticasse a linha do horizonte, é para lá dessa linha que começa o que sonhamos, onde os ventos nos levam
O caminho da minha casa é interior, onde a paz me toma, onde eu me deito, oro e me acolho, os voos pertencem às aves, as tonturas aos homens.
Só quando sonhamos nossos sonhos, nos livramos das vertigens,
As asas nascem dentro da gente e nos fazemos pássaro então
Na procissão dos fatos os ventos ruidosos apagam as velas, não há pecado algum em chorar, mas desejo querer entardeceres que não briguem com as noites,
Ainda que as manhãs não se manifestem, eu não choro por ela, eu vivo os meus dias plenos, as coisas boas ainda me tomam,
Os nuncas nunca são para sempre e sempre nos dissemos isso,
O futuro não fala nada do que ele é, nada sei do que há de vir, e o que foi transformo em caminhos,
Os nuncas ainda me falam dela, das aventuras de viver.
Eu sei olhar nos olhos dele, assim como ela ainda me olha de longe atenta a desvendar os rumos que eu tomo,
Há cansaços acumulados nos corações dos homens, no peito dos dias as arritmias não me tolhem os passos, lanço os meus cantos e uso as ondas e as aragens para navegar bem mais longe.
Chegar a ti é um ato solitário, as velas sabem de mim, à solitude dos gestos dou bússolas ao barco, faço-me vento, homem queimado ao sol,
Entrego-me à intimidade dos afetos perene, sigo em frente, rumo ao lugar a que pertenço.
Nas minhas certezas nada me perturba, eu não me apresso então, na Terra do Amor nada tem pressa...
Charles Burck


O amor não fere o passarinho, nem este fere aos que ama,
Os farelos de pão sobre a mesa servem para os bicos pacíficos,
Sem a brutalidade dos leões ou os rugidos das feras,
Criamos nos corações rotinas de enfeitar a vida,
Floreando em linhas coloridas as costuras das mortalhas, 
Mas eu escrevo em todos os lugares, poemas costurados as asas da mariposa,
Nas costas dos morcegos ou na ritmada lagarta que tece os fios de seda,
O moço da bicicleta perdeu-se entre as linhas da ciclovia,
Diz-me nada saber sobre poemas nas marginais,
Ele não sabe olhar nas entrelinhas dos aros coloridos,
No portal das nuvens dando a direção da cidade encantada
Mando postal de olhar nos olhos dela, um enfeite qualquer que lhe dê brilho às orelhas,
Um designer moderno de brincos que desenhei com enfeites de madrugada.
Lavei as calçadas com lavandas para afastar os cheiros da extenuação,
Diz minha filha que faço poemas até com a morte
Não me confronto com ela, nos damos bem e falo dela algumas vezes, para saber-me vivo
A mariposa volta e traz o poema mudado, palavras e frases acrescentadas a cada pouso
E a solidão depois do amor pesa sobre as asas dela.
Escrevi algumas cartas, ainda gosto da tinta e do papel,
De saber como é a minha letra tremida à emoção do momento ou suavizada a calma molhada em um copo de vinho,
A rua ecoa meus passos, ou quase isso, retirei os sapatos, gosto de sentir o chão, e saber-me quase humano, não dependente de coisas manufaturadas,
Que sou um ser que caminha descalço, que faz poemas sobre a vida ocasional e sobre a morte sorrateira,
Preciso escrever outras cartas, saber mais o que eu penso sobre mim,
Os poemas me seguem, a noite é fria e sabê-los tão perto me aquece um tanto a alma
E sem os pesos de culpas
Charles Burck



sábado, 8 de abril de 2017

O casulo abriu-se e o voo se deu,
Palavras ainda não ditas escapam em translúcidas as asas
Não há mais espaços ao medo
As minhas mãos estendidas as apanham no ar,
Os poemas têm a audácia dos voos, são personagens de nossas histórias,
O olho a transmitir a vida – a transparência contida no que não sabemos de nós,
O poeta, por vezes chora o homem em suas lições de cada dia
Tão invisível a vazar a mistura de futuro e passado, de receios e coragens formando a liga-costura
Os excessos e as faltas de nós nos desmentindo e falando verdades,
Os poemas de hoje eu já os colhi no amanhã e os escrevi no ontem,
O jardim suspenso dentro de mim, a essência que se condensa quando admitida,
Rabisco um nome em letras feitas no ar, quantas sementes parecem que germinam ao acaso, mas não.
Tenho consciência que não,
Conto sua história forjadas em amor, no adubo à terra, a água, o lavrar com as mãos abertas,
Somos heróis e vilões de nossas próprias trajetórias, das dores que plantamos e colhemos,
Das flores mais belas, dos perfumes que como exemplo de amor se tornam o ar que respiramos
Tenho essa fé imensa em que nada acaba sem nascer pleno
O cachorro latiu e o galo cantou,
Essa quietude que me toma é uma vazão de mim,
E me diz para que entender se podemos apenas sentir?
Assim como silenciosa amanhã que vai chegando e afastando as sombras


Charles Burck












Ela sempre me pareceu um mistério,
Era uma menina de minha infância, cabelos cor de cebola, e as tranças trançando lembranças,
Um dia eu a vi passando, tentando se equilibrar nos saltos altos dos sapatos da mãe,
Os meninos tinham a intenção de zombar, mas faltavam coragens ao encarar os olhos de onça,
Ninguém se mexia até ela sumir na esquina,
E eu a admirava solene
Tenho na imaginação rascunhos de cartas escritas em branco, todas para ela,
Algumas rasgaram meu coração mal preparado para tanta emoção,
Todos os dias eu passava diante da casa dela,
E a via por trás das cortinas que escondiam vislumbres de poemas.
Era como se eu tivesse lendo ela, e como se toda a vida morasse lá dentro.
Ela tinha o dom de conferir madrugadas insones a mim, a conjecturar sobre como seria me dirigir a ela,
Dizer uma palavra sequer, apenas uma que configurasse uma ligação, ainda que momentânea,
Os cheiros contam histórias, o cheiro dela que eu nunca senti, também,
O sorriso que eu nunca ganhei
É tudo o que eu guardo dela, parece pouco, mas ela foi o meu primeiro amor de criança,
Mas, outro dia eu a vi na igreja, de véu branco sobre a cabeça,
Nada usual, mas no seu ato de respeito ao lugar, pareceu-me ela, a santa
Eu a admirei de perto, sem os medos de sempre, e ela me sorriu,
O mundo mudou de lugar, e os sonhos de sempre voltaram
Juro até que Santo Antonio me piscou um olho, e me sorriu também



Charles Burck