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domingo, 29 de julho de 2018


Açucares Artificiais



Havia uma saída no meio da cena,
Um desvio ao delírio cego dos personagens
Uma válvula de escape, uma opção à venda da visão
A fecundar os lírios dos olhos em tempos de escassez e secas
Mas o amor fez discurso na praça pública
Falou das cegueiras que trazem a tantos danos
Os tempos de desvarios da violência e da ignorância,
Quando seria preciso dirigir os enganos, cuidas das feridas e sanar os danos
Os políticos não gostaram, trataram o amor como coisa de segunda linha,
Cavalo sem estirpe, cão manco sem pedigree
Historiadores negaram sua história, os eruditos disseram-no, mitologia
A louca medusa de mil cabeças, centauro do insensatez,
Quiseram acabar com o amor por decreto, e criaram uma polícia especial para investiga-lo
Ao amor acuado só restou uma saída, viver degradado,
A fábula se esgotou e é altura de serem homens,
Na desgraça miserável de serem maiores do que eles,
Na pequena glória portátil de não serem menores do que eles.
Mas não, não vou dizer-lhes, estava eu bem arranjado.
Corriam-me à pedrada ou pregavam-me no madeiro,
Que é o que te estão já preparando,
Com pregos e martelo nos bolsos,
Quando for a altura de esgotares, como os políticos, a esperança
Que tinhas prometido,
E aguardarem até ao ano que a trouxesses outra vez.
Porque, enfim, sem esperança,
Como diabo se há de viver?
Estou só e muito enrascado
De que me vale o tudo quando o tudo é nada,
Melhor pedir aos céus uma colherada de adoçante
O artificial sugar de uma flor qualquer, um aspartame de lua
Do que sorver as tempestades amargas da ausência tua

Charles Burck



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