Açucares
Artificiais
Havia
uma saída no meio da cena,
Um
desvio ao delírio cego dos personagens
Uma
válvula de escape, uma opção à venda da visão
A
fecundar os lírios dos olhos em tempos de escassez e secas
Mas
o amor fez discurso na praça pública
Falou
das cegueiras que trazem a tantos danos
Os
tempos de desvarios da violência e da ignorância,
Quando
seria preciso dirigir os enganos, cuidas das feridas e sanar os danos
Os
políticos não gostaram, trataram o amor como coisa de segunda linha,
Cavalo
sem estirpe, cão manco sem pedigree
Historiadores
negaram sua história, os eruditos disseram-no, mitologia
A
louca medusa de mil cabeças, centauro do insensatez,
Quiseram
acabar com o amor por decreto, e criaram uma polícia especial para investiga-lo
Ao
amor acuado só restou uma saída, viver degradado,
A
fábula se esgotou e é altura de serem homens,
Na
desgraça miserável de serem maiores do que eles,
Na
pequena glória portátil de não serem menores do que eles.
Mas
não, não vou dizer-lhes, estava eu bem arranjado.
Corriam-me
à pedrada ou pregavam-me no madeiro,
Que
é o que te estão já preparando,
Com
pregos e martelo nos bolsos,
Quando
for a altura de esgotares, como os políticos, a esperança
Que
tinhas prometido,
E
aguardarem até ao ano que a trouxesses outra vez.
Porque,
enfim, sem esperança,
Como
diabo se há de viver?
Estou
só e muito enrascado
De
que me vale o tudo quando o tudo é nada,
Melhor
pedir aos céus uma colherada de adoçante
O
artificial sugar de uma flor qualquer, um aspartame de lua
Do
que sorver as tempestades amargas da ausência tua
Charles
Burck
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