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sexta-feira, 10 de novembro de 2017

A mulher cega procura o buraco da agulha, a mulher louca procura a razão que una os fatos,
A mulher que ama arruma o quarto...

A linha de seda, a linha de trapo, o fio de linho amarrado em laço,

A cegueira tateia o amor, a loucura o despedaça em naco, a paixão arruma os pedaços  do amor que sobrou

A cegueira expia na escuridão, a loucura foge para o quarto dentro do espelho, a que ama cuida
Tudo hei de saber descosturar, cada peça de roupa macia, cada pétala feita em licor, cada soma que não dê resultado,
Abortem os cintos, o avião partiu para o infinito, desacelerem as almas
Os olhos arregalados da loucura veem as agulhas da cegueira costurando a vida,
Os dias se vão dos seus olhos cegos para sempre,
Mas nos tempos da loucura hei de cantar devagar,
A canção dos olhos penitentes a despir a mulher do poema,
 As roupas espalhadas sobre as cadeiras, o sexo descosturado para não haver solidão
A inquietação de quem tateia no escuro a procura de um toque de amor,
O umedecer dos dedos, as vertigens noturnas, um clarão de luna, um espasmo entre as pernas,
A loucura senta-se e na varanda desenha a lua, a cegueira fecha as janelas,
É hora da cama, o perfume das magnólias brancas, o amor se ajeita entre as três,
Cada uma ao seu se jeito se dá, a primavera desmaia, faz sol sem ser dia,
E o amor costura a loucura com fios de seda e penetra com centelhas de uma luz desconhecida, bem fundos nos olhos da cegueira,
A moça apaixonada fechou bem os olhos para saber amar com os sentidos, enlouqueceu o que tinha de são e se perdeu mil vezes antes que a loucura ensinasse a cegueira a por a linha na agulha




Charles Burck

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