A mulher cega procura o buraco da
agulha, a mulher louca procura a razão que una os fatos,
A mulher que ama arruma o quarto...
A linha de seda, a linha de trapo, o
fio de linho amarrado em laço,
A cegueira tateia o amor, a loucura o
despedaça em naco, a paixão arruma os pedaços do amor que sobrou
A cegueira expia na escuridão, a
loucura foge para o quarto dentro do espelho, a que ama cuida
Tudo hei de saber descosturar, cada
peça de roupa macia, cada pétala feita em licor, cada soma que não dê
resultado,
Abortem os cintos, o avião partiu
para o infinito, desacelerem as almas
Os olhos arregalados da loucura veem
as agulhas da cegueira costurando a vida,
Os dias se vão dos seus olhos cegos
para sempre,
Mas nos tempos da loucura hei de
cantar devagar,
A canção dos olhos penitentes a
despir a mulher do poema,
As roupas espalhadas sobre as cadeiras, o sexo
descosturado para não haver solidão
A inquietação de quem tateia no
escuro a procura de um toque de amor,
O umedecer dos dedos, as vertigens
noturnas, um clarão de luna, um espasmo entre as pernas,
A loucura senta-se e na varanda
desenha a lua, a cegueira fecha as janelas,
É hora da cama, o perfume das
magnólias brancas, o amor se ajeita entre as três,
Cada uma ao seu se jeito se dá, a primavera
desmaia, faz sol sem ser dia,
E o amor costura a loucura com fios
de seda e penetra com centelhas de uma luz desconhecida, bem fundos nos olhos
da cegueira,
A moça apaixonada fechou bem os olhos
para saber amar com os sentidos, enlouqueceu o que tinha de são e se perdeu mil
vezes antes que a loucura ensinasse a cegueira a por a linha na agulha
Charles Burck
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