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quarta-feira, 12 de abril de 2017

Como gosto dessa maneira de amar, meu amor,
De chegar mais cedo, antes
Para admirar a beleza espalhada dos teus cabelos,
Beber desse desejo que jamais passa, da água fresca do teu regaço,
Excitar ainda mais essa expectativa, para saber os limites de nós,
A de preparar o amor como um presente que nos damos
A troca desta certeza de que tanto gostamos de sentir,
 Fui em tua janela, para respirar maresia…
Cheiros dos sonhos do mar em meus olhos de esperança
O coração ao limite da boca pronto a viver o dia,
As surpresas de sempre de fazer amor

Como se tudo fosse de novo a primeira vez

Charles Burck

Quero romper essa pressão das horas,
Essa pressa aflitiva, dos segundos cutucando-me,
Quero tocar você de todas as formas,
recriando mundos que tantas vezes inventamos,
A fronteira das bocas coladas,
O instinto das línguas deletando palavras,
Sem ser preciso saber quem somos,
Se a nossa casa é nossa,
Somos nós que nos moramos
Sem as pressas do tempo formulando o que é nosso,
Sermos a suavidade eterna,
serenos modos de sermos nós
Demarcando o espaço que nos pertence
Ligue a música, o som que nos complementa
Os reflexos do sol no quarto,
Toma a minha a mão e sirva-se de mim,
Dança um tango de colar os corpos,
De olhar nos olhos sem nada mais em volta,
De unir as mãos
Embebede-se de nossa canção, bebidas amorosas, o amor em pequenos goles,
A vida feita de delicadas portas de entradas, de dentro conhecer,
Quando já sabemos do teor das almas,
E bom ouvir o que ela nos fala, apenas como forma de nunca esquecer,

Charles Burck 




Mas a vida ganha espaços novos quando tudo muda de lugar,
A cada instante o tempo é outro, e tantas coisas viram sopros limpando a alma de tantos resíduos,
É um vento levando abraços perdidos, beijos não dados, despedidas repentinas,
Então você entende um pouco mais sobre as faxinas e sobre a vida,
E o dedicar-se a cultivar afagos e perdões ao invés, de magoas e aflições,
É uma morte das coisas desnecessárias para novas nascenças,
Barcos de fundos rachados retirados do cais para outras atracações,
Enganam-me apesar de tudo as palavras que nunca dizem tudo
Quantas vezes elas nos iludem aos nos negar as verdades interiras
Há dias em que esse vento morno são artifícios, a negação das coisas mais simples e verdadeiras
De silêncios que insistem em dizer o que eu não queremos ouvir.
Ou de gestos que não sustentas os sentimentos mais profundos,
Sou pássaro e voos suaves, de alcances longos e de altas altitudes  
Há dias que a vida são voos feitos de pássaros de detalhes,
De horizontes que nos esperam no batente da janela
De confiar que os cantos voltem, e os encantos aflorem no limiar entre esse e o outro mundo
Que o coração traduza os desejos até o próximo voo.
De amar-se sem convulsões, serenar-se ao ser planícies de ver mais longe
 O dizer tudo apenas no gesto de olhar com mais apuros e atenção



Charles Burck 







domingo, 9 de abril de 2017



Nunca, é assim mesmo, faz de conta que não volta, mas está presente ao que dele falamos,
Saber, ainda que longe, que os teus pés caminham sem mim, é correr o mundo contigo,
Dançar o que não me cabe, trocando voltas de passos marcados ao que os dias me deixaram.
Não importa se fostes, a partida nem tudo nos leva, se a conclusão é que daqui nunca saíste, fica então.
Nem mesmas as tuas recusas descerram os teus braços, se os teus olhos se renunciam aos meus, ainda te vejo a não me olhar, e a eles pertenço
O deitar ao teu colo é uma forma de ser, o tecido que se esgarça, mas que ainda cobre a nudez. Como se desfaz o que é?
E os sonhos são sementes que brotam, frutificam e apodrecem, mas a terra tece as sementes que caem e dão vida de volta ao ciclo vital.
Germinam no ventre da gente e precisam de cuidados, como filhos amados, famintos pedindo o seu quinhão de alimento e vida,
E te sugam e te mordem, te comendo os pedaços,
Do outro lado é o futuro, um tempo que sabemos depois, mas que sempre chega antes se nele pensamos,
Um tempo que somaremos aos que tivemos, tempos colhidos aos que me nos restam,
Formatando o teu sorriso como se esticasse a linha do horizonte, é para lá dessa linha que começa o que sonhamos, onde os ventos nos levam
O caminho da minha casa é interior, onde a paz me toma, onde eu me deito, oro e me acolho, os voos pertencem às aves, as tonturas aos homens.
Só quando sonhamos nossos sonhos, nos livramos das vertigens,
As asas nascem dentro da gente e nos fazemos pássaro então
Na procissão dos fatos os ventos ruidosos apagam as velas, não há pecado algum em chorar, mas desejo querer entardeceres que não briguem com as noites,
Ainda que as manhãs não se manifestem, eu não choro por ela, eu vivo os meus dias plenos, as coisas boas ainda me tomam,
Os nuncas nunca são para sempre e sempre nos dissemos isso,
O futuro não fala nada do que ele é, nada sei do que há de vir, e o que foi transformo em caminhos,
Os nuncas ainda me falam dela, das aventuras de viver.
Eu sei olhar nos olhos dele, assim como ela ainda me olha de longe atenta a desvendar os rumos que eu tomo,
Há cansaços acumulados nos corações dos homens, no peito dos dias as arritmias não me tolhem os passos, lanço os meus cantos e uso as ondas e as aragens para navegar bem mais longe.
Chegar a ti é um ato solitário, as velas sabem de mim, à solitude dos gestos dou bússolas ao barco, faço-me vento, homem queimado ao sol,
Entrego-me à intimidade dos afetos perene, sigo em frente, rumo ao lugar a que pertenço.
Nas minhas certezas nada me perturba, eu não me apresso então, na Terra do Amor nada tem pressa...
Charles Burck


O amor não fere o passarinho, nem este fere aos que ama,
Os farelos de pão sobre a mesa servem para os bicos pacíficos,
Sem a brutalidade dos leões ou os rugidos das feras,
Criamos nos corações rotinas de enfeitar a vida,
Floreando em linhas coloridas as costuras das mortalhas, 
Mas eu escrevo em todos os lugares, poemas costurados as asas da mariposa,
Nas costas dos morcegos ou na ritmada lagarta que tece os fios de seda,
O moço da bicicleta perdeu-se entre as linhas da ciclovia,
Diz-me nada saber sobre poemas nas marginais,
Ele não sabe olhar nas entrelinhas dos aros coloridos,
No portal das nuvens dando a direção da cidade encantada
Mando postal de olhar nos olhos dela, um enfeite qualquer que lhe dê brilho às orelhas,
Um designer moderno de brincos que desenhei com enfeites de madrugada.
Lavei as calçadas com lavandas para afastar os cheiros da extenuação,
Diz minha filha que faço poemas até com a morte
Não me confronto com ela, nos damos bem e falo dela algumas vezes, para saber-me vivo
A mariposa volta e traz o poema mudado, palavras e frases acrescentadas a cada pouso
E a solidão depois do amor pesa sobre as asas dela.
Escrevi algumas cartas, ainda gosto da tinta e do papel,
De saber como é a minha letra tremida à emoção do momento ou suavizada a calma molhada em um copo de vinho,
A rua ecoa meus passos, ou quase isso, retirei os sapatos, gosto de sentir o chão, e saber-me quase humano, não dependente de coisas manufaturadas,
Que sou um ser que caminha descalço, que faz poemas sobre a vida ocasional e sobre a morte sorrateira,
Preciso escrever outras cartas, saber mais o que eu penso sobre mim,
Os poemas me seguem, a noite é fria e sabê-los tão perto me aquece um tanto a alma
E sem os pesos de culpas
Charles Burck



sábado, 8 de abril de 2017

O casulo abriu-se e o voo se deu,
Palavras ainda não ditas escapam em translúcidas as asas
Não há mais espaços ao medo
As minhas mãos estendidas as apanham no ar,
Os poemas têm a audácia dos voos, são personagens de nossas histórias,
O olho a transmitir a vida – a transparência contida no que não sabemos de nós,
O poeta, por vezes chora o homem em suas lições de cada dia
Tão invisível a vazar a mistura de futuro e passado, de receios e coragens formando a liga-costura
Os excessos e as faltas de nós nos desmentindo e falando verdades,
Os poemas de hoje eu já os colhi no amanhã e os escrevi no ontem,
O jardim suspenso dentro de mim, a essência que se condensa quando admitida,
Rabisco um nome em letras feitas no ar, quantas sementes parecem que germinam ao acaso, mas não.
Tenho consciência que não,
Conto sua história forjadas em amor, no adubo à terra, a água, o lavrar com as mãos abertas,
Somos heróis e vilões de nossas próprias trajetórias, das dores que plantamos e colhemos,
Das flores mais belas, dos perfumes que como exemplo de amor se tornam o ar que respiramos
Tenho essa fé imensa em que nada acaba sem nascer pleno
O cachorro latiu e o galo cantou,
Essa quietude que me toma é uma vazão de mim,
E me diz para que entender se podemos apenas sentir?
Assim como silenciosa amanhã que vai chegando e afastando as sombras


Charles Burck












Ela sempre me pareceu um mistério,
Era uma menina de minha infância, cabelos cor de cebola, e as tranças trançando lembranças,
Um dia eu a vi passando, tentando se equilibrar nos saltos altos dos sapatos da mãe,
Os meninos tinham a intenção de zombar, mas faltavam coragens ao encarar os olhos de onça,
Ninguém se mexia até ela sumir na esquina,
E eu a admirava solene
Tenho na imaginação rascunhos de cartas escritas em branco, todas para ela,
Algumas rasgaram meu coração mal preparado para tanta emoção,
Todos os dias eu passava diante da casa dela,
E a via por trás das cortinas que escondiam vislumbres de poemas.
Era como se eu tivesse lendo ela, e como se toda a vida morasse lá dentro.
Ela tinha o dom de conferir madrugadas insones a mim, a conjecturar sobre como seria me dirigir a ela,
Dizer uma palavra sequer, apenas uma que configurasse uma ligação, ainda que momentânea,
Os cheiros contam histórias, o cheiro dela que eu nunca senti, também,
O sorriso que eu nunca ganhei
É tudo o que eu guardo dela, parece pouco, mas ela foi o meu primeiro amor de criança,
Mas, outro dia eu a vi na igreja, de véu branco sobre a cabeça,
Nada usual, mas no seu ato de respeito ao lugar, pareceu-me ela, a santa
Eu a admirei de perto, sem os medos de sempre, e ela me sorriu,
O mundo mudou de lugar, e os sonhos de sempre voltaram
Juro até que Santo Antonio me piscou um olho, e me sorriu também



Charles Burck