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terça-feira, 23 de outubro de 2018



Sozinho

É trágico o cansado para quem dorme sozinho e os traços das ruínas perdem-se nas cores da cama,
Ainda que sendo abstratas, a tradução do repouso serão sempre cansaços
Nos deslizes do corpo a ideia que há outro corpo juntado,
E decairão das vigas do teto os encaixes pousados,
As asas diuturnas dos sexos não dados
Pensar num clarão das almas vazantes, dos gozos fantasmas, dos membros pulsantes,
Das asas sem onde pousarem
E entre parênteses ficaram os sinais dos gemidos nos sonhos
a quintessência do desejo vazio
Os contrastes das janelas em volta, que gritam em debochadas sonoras batidas
Dos músculos e dos ossos
Das peles, que se roçam em atritos pungentes,
Os alívios dos seres sem penas dos que ouvem,
as lambidas que doem em seus ventres, as línguas que lhes saltam das bocas
A dor do poder de sonhar, enquanto se lambuzam sem ter,
Quem possa colher os seus beijos inúteis,
A vergonha sabe as verdades de seus discípulos
E antes lhes ensina que não há vergonha absoluta
E a vergonha maior é a perda de si,
O rito do corpo não se sustenta sem sonhos
Sobreviver além de tudo
Sobreviver é um atributo aos que sonham
Aos que riem sozinhos, aos que limpam com seu olhos as gotas de orvalhos,
Aos que se enterram, mas para buscar no submundo o espírito que brilha,
Antecipando ao som, faz dos gemidos da morte, uma canção de vida

Charles Burck 





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