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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018


No bolso do paletó guardo mais que a carteira,
Na gaveta do meio guardo todas as nossas coisas. Os campos que lês, os laços que abro, as veias dormentes, a luz da lareira. No meio dos sonhos contados guardo os sons e o frio dos ossos. A pele que liberta a lição. O tempo


Doem-me as mãos ao escrever, a pungência da noite intercalada na carne o gorjeio dos corvos a estende a fatalidade como o garrote das fontes,
O apontar dos dedos, a arte de denunciar os semelhantes, os negros quadros de lama e de sangue,
Não dou as costas aos covardes, os que medram no escondido das noites,
Os que vagam como sombras rentes ao chão,
Chove em todos os sentidos, esqueço o momento levito na escuridão, pairo sobre os parvos de raízes entre as pedras,
Todas as minhas veias resvalam na vibração do universo, na simbiose do homem e dos astros, nessa força viva que me sustenta as asas,
Quem és tu que a mim se junta para sonhares as palavras vivas?
Que compreende o sentido do ser, que estende as frases além de nós,
O guerreiro assombrado com si, com as coisas que descobre ao fincar a espada no jardim acima da cabeça
És tu os que tivestes as pernas e os braços pesados, a cabeça a mergulhada nos sonhos, o sentido de nadas entres as flores de liz e as algas,
O que limpou o caminho por baixo do solo adormecido do pensamento, deu ênfases as línguas, aos palatos, ao som que nasce das paredes que tentavam separar os mundos
Sinto que já fui pó, madeira queimada, as chagas filhas da cegueira brumosa
Sou eu agora que falo a tua voz, o cálice das ninfas, pelos centros, pelos arredores, pelas distâncias onde apenas os bichos rastejavam,
O onírico delírio festejado em reais cores, a sufocar o escuro, não quero pensar o que sei, ainda há tantos nadas a rondar as loucuras,
Armadilhas plantadas diante de nós, por onde vaga o vento, dizendo que nada sei,
Que não sei nada



Charles Burck

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