Ode aos beligerantes
Se fosse só a inquietação dos vulcões e o dinamismo das massas
Eu deixaria chover,
Mas envergo-me a aceitar outros fatos os que eu não tenho
Os que eu não sei e os que fogem à minha compreensão,
Mas sou farol sonoro no meio da escuridão e visto-me de branco e aceno
E as tempestades que eu não convoquei
chegam
E inundam as fendas e varrem as
soberbas,
As hordas selvagens se aproximaram,
ouço os seus cantos,
Os seus hinos e a cor de cada voz,
Quem pensa em fugir delas, congela,
Os corações de pedras procuram os
peitos de carnes,
As puras obtenções de um sangue que
corra mais do que vaze,
As chinelas púrpuras dos pés magoados aplanam as estradas,
Somos todos um único ser, envolvidos pelo mesmo domus
E a cavalaria chega mais cedo nos tropéis cegos que devastam os jardins,
As células dos cascos salpicam misturadas à poeira os rostos maculados,
O batismo de fogo e lágrimas calaram os bardos,
Na história se perderão os heróis e os covardes, os sangues dos dois se
misturarão sob a sombra da mesma bandeira,
E a eternidade jamais explicará a
falência dos braços que se separaram após os abraços,
E a unicidade das vozes nos contará dos
brilhos perdidos dos olhos,
Os erros de julgamentos e a morte
levarão seus entes para crucificação,
E os herdeiros das batalhas arruinadas
comerão o pó e os ossos calcinados,
E as velhas guarnições de carnes
esquecidas nos lastros dos barcos naufragados,
A discórdia semeará os campos e a morte comerá nas garras das feras
e depois dormirá sobre as ovelhas imoladas,
e sonhará
No chão pisado pelos que vieram dar voz ao tempo,
se calarão ante a precipitação dos deuses,
e das estações
As bestas parirão em todas as estocadas das mandíbulas dos detratores,
E chorarão as orações não ouvidas pelos que sentaram sob os véus de
malignas perversidades,
Honrarão os nomes cravejados nos painéis dos purgatórios,
como único ofertório oferendado aos mortos
E as aparições penitentes vindas do caos procurarão novas causas,
Novos corações beligerantes para justificarem as suas armas,
E matarão os mortos mais uma vez e
farão filhos sob as covas rasas,
Caminharão pelos campos açodados e
anotarão os nomes dos que ainda gemem
E ao que venham insurgentes partirão
sem adeus
Um dedo de prosa e dois punhais
encravados serão os
sinal de amistosidade
Um beijo nas faces crispadas e trintas
moedas para compensar a perda das suas almas
Charles Burck
Richard Baxter 1966