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quarta-feira, 13 de abril de 2022

 Um beijo pode mudar uma vida, criar outro mundo, um universo à parte

Um jardim onde brota uma inesperada flor,
Que surge ao invisivel dos olhos, que se vê com a alma
E assim, eu me supreendo que, neste mundo de tantas dores
Onde palavras ferem como espinhos
Haja uma boca que ainda dê flores
Charles Burck




Trago-te no olhar, aparição extraordinária
Quantas coisas tateei enquanto era cego,
Imaginei um dia seco, onde as chamas se alastram,
Caminharei por entre o fogo,
E deixarei queimar o meu coração limpo,
Onde assim me venha a luz da lamparina,
Que me guie até a próxima clareira,
Desse amor certo e genuíno,
Onde de nós faça sentido,
Ao dar-me a mão, às minhas, às vezes tão exaustas,
A guiar-me por essa nova estrada,
Por onde eu vista minha última roupagem
A última

Charles Burck 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

 

Todas as noites sonhos os teus braços

Lambo os teus beijos e como a tua carne,

Mas é a tua alma que me traga

, me engole e me consome...




 

O mundo era longe, longe também a minha infância,

O campo de mato rasteiro

Os olhos trigueiros

A menina desnuda no leito de flores de melão,

Mais longe, ainda, fica a vontade de reviver,

O cheiro que ainda chega o sabor que brinca de fazer salivas

As lembranças que permeiam os tempos de poucos fazeres

Os gestos de minha avó não dispensavam ternuras,

Os brincos de pedras pequenas brilhavam mais do que deveriam

Era a magia que dela se expandia a todas as coisas,

O passado é nosso campo cultivado para colheitas futuras, em tempos escassos,

A minha alma embora tenha asas alongadas, embora ainda deseje voos maiores,

Nos tempos que me restam, não tão alongados assim,

Já penso que os bons ventos não voltam, raramente passam por aqui.


 


 

Carnadura

 

 

Tomou-me como quem chega de um imenso abandono

A boca seca sobre a minha fonte

Descontrolada e sôfrega

Antes que a morte consumisse tudo, antes que a vida das cinzas se tornasse chamas

Tomou-me como dono, sem construir um alicerce sequer, sem um tijolo posto Do amor, a que nada servia, operário, servente de pedreiro, engenheiro de porra nenhuma

Enfiou-me os dedos na massa pronta e lambeu

Ajeitou-se nos cômodos e esqueceu-se de mim,

Nos glúteos, as sofrências, as marcas de flores arroxeadas,

Tomadas floresceres de assomos dos jardins da decadência

Se inocência já era daninha entre flores depravadas, fazia tempos que eu o desejava

Os meus arpejos suspirados, aflorados em desesperos no corpo

Rasgues então as minhas carnes, sorva todos os meus líquidos, devotada e embriagada que estou

Deixe-me somente meio litro necessário para que eu não me vá da vida, toda...

Entupa a minha boca, as minhas coxas, por outros fatos...

De dormência, de solfejo, de carnadura

Alimente-me de beijos, roubados do aberto ventre e exposto

Das espremeduras dos seios, desconte-me em mim o tempo que eu não fui tua

Mas nem precisava a demência, a sofreguidão dos marinheiros de mares revoltos

Nem precisava que me pedisses porto, algum consolo,

Ou qualquer rogativa minha posta de saudades

Ou que me impusesses as tuas invasivas lembranças

Ou me impetrasses tu, me penetrando o mastro da nau dos desesperados

ou que eu implorasse a ti qualquer amparo tolo

Ou ainda que tu, nada sentisses por mim, pois que a isso nada importasse

Para quê?

Se eu, na tua ausência, já era tua

 

Charles Burck


Alberto Pancorto


 

quinta-feira, 3 de outubro de 2019


Não sei como dizer-te que minha voz te procura
Contudo que os meus dois versos são poucos
com que o poema que encerra num ponto e numa virgula
Sem ser totalmente traduzido
Uma epístola sobre as palavras curtas ao sentido amor expandido
sobre o mar, o vento por dentro, sobre o tempo da maresia
Um beijo que alça voo sem saber onde pousar
 Um pensamento nas espinhas dos peixes
O coração do herege que se entrega a Deus
A vida no breu onde termina o mar
Onde findam as palavras, onde eu vou te buscar nos silêncios dos que amam
Um dia depois de morrer, quando o tempo acende o verde
A tua face, os teus olhos de semáforo e as nossas bocas se cruzam e ecoam
E arrancam pedaços na intenção de florir
a atenção começa a florir, quando sucede a noite
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos se cortam e se unem aos meus
O sangue não fala, nem mata, nem morre
Apenas os sentidos nos levam do nada ao tudo
E a vida escolhe as palavras, e nos mata de amor e nos fala da vida
Dos anjos, dos demônios, e das bênçãos e das heresias do amor e dos sexo

Charles Burck







Condensa a tua alma na minha, os teus seios no meu peito e geme as delicias das viagens siderais
As vestes, os dramas, a minha cama é pequena para as nossas travessuras,
A questão regressa sobre o princípio do universo, poema se enquadrado na física das mãos, nas contrações do sublime encaixe, do infinito aos pequenos gestos dos lábios na flor
 Na matemática, que continuamente arrefece, expande-se e condensa-se para formar galáxias e nebulosas em cada ramos de amor
Nos dias de almas lavadas, sem vincos e sem dobras, em atenção
ao sossego
Assenta o azul turquesa, a Vênus nua
A noite não cessa e por trás das cortinas nunca para de parir estrelas

Charles Burck