Carnadura
Tomou-me como quem chega de um imenso abandono
A boca seca sobre a minha fonte
Descontrolada e sôfrega
Antes que a morte consumisse
tudo, antes que a vida das cinzas se tornasse chamas
Tomou-me como dono, sem
construir um alicerce sequer, sem um tijolo posto Do amor, a que nada servia,
operário, servente de pedreiro, engenheiro de porra nenhuma
Enfiou-me os dedos na massa
pronta e lambeu
Ajeitou-se nos cômodos e
esqueceu-se de mim,
Nos glúteos, as sofrências,
as marcas de flores arroxeadas,
Tomadas floresceres de
assomos dos jardins da decadência
Se inocência já era daninha
entre flores depravadas, fazia tempos que eu o desejava
Os meus arpejos suspirados,
aflorados em desesperos no corpo
Rasgues então as minhas
carnes, sorva todos os meus líquidos, devotada e embriagada que estou
Deixe-me somente meio litro
necessário para que eu não me vá da vida, toda...
Entupa a minha boca, as
minhas coxas, por outros fatos...
De dormência, de solfejo, de
carnadura
Alimente-me de beijos,
roubados do aberto ventre e exposto
Das espremeduras dos seios,
desconte-me em mim o tempo que eu não fui tua
Mas nem precisava a
demência, a sofreguidão dos marinheiros de mares revoltos
Nem precisava que me pedisses
porto, algum consolo,
Ou qualquer rogativa minha
posta de saudades
Ou que me impusesses as tuas
invasivas lembranças
Ou me impetrasses tu, me
penetrando o mastro da nau dos desesperados
ou que eu implorasse a ti
qualquer amparo tolo
Ou ainda que tu, nada
sentisses por mim, pois que a isso nada importasse
Para quê?
Se eu, na tua ausência, já
era tua
Charles Burck
Alberto Pancorto
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