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quinta-feira, 3 de outubro de 2019


O jardim não termina no mar
livro não termina agora
testamento é a lição da explosão do amar bem longe de nós dois
Aos dias que se sucedem preenchendo os vazios
 Nas molduras dos olhos distantes
 As apáticas evidências que o amor acontece em algum frio lugar
Uma moldura mais bela do que a tela a nos forçar a contemplar a diversão dos que nos ignoram
e as vidas concretas não nos permitem atrasos, assim somos barrados na porta
Quando o poema começa a germinar na fenda expostas, o mundano e o acaso se beijam intrometendo-se sem convites formais
eu preciso dar o meu lugar à solidão que dispensa argumentos na cama
Enquanto a flor brota em outro lugar
Eu revolvo a terra morta
Em busca que qualquer semente que cheire a rosa


Charles Burck 


terça-feira, 1 de outubro de 2019


Nas casas abandonadas, perdidas as portas, seguimos as senhas
os ecos de algumas vozes falavam a língua do futuro, e nos levam a um mundo novo
os que amam creem nas palavras que cresce em jardins
Já não precisamos de chaves, os corpos se juntam em redes próprias, varandas expondo os nossos acréscimos de desejos
Há as palavras que nem que precisamos regar
Eles sabem de mim porque eu digo palavras
Mas que palavras hei de dizer ao meu amor por ti?
Se das flores que exaladas, todas as palavras dizem a mesma coisa

Charles Burck






A pedra grifa na carne um arco de um deus subentendido
E costuro aflito os vãos para que não me fuja o sangue bento
Os conflitos dos homens com os homens matam o Deus ressurgido
Os galhos pelados e áspero do outono estremecem os pensamentos
Iniciada a colheita do trigo e do feno, os campos de centeio ondulam
 Sem pressentirem tempo difíceis
Na terra crescida entornam as uvas
A massa já está pronta.
O mundano acena-me
Sinais órfãos de linguagem e obsceno oferece o vinho em taças de cristais
Os dedos molhado e enrugado
Colhem nos seios uma colheita atrasada
Das lacunas abertas o diagnostico protetor
No purgatório admito o meu erro
E o Deus diz-me que regresse e se esgote, só depois então, volte

Charles Burck   










terça-feira, 10 de setembro de 2019


Estou sentada na cozinha, enquanto o chá ferve.
Amo as coisas concretas e as arbitrárias
O açúcar mascavo me dói o dente
Descobri a tua presença em pequenos goles de arnica
e chá de cidreira
Os desconfortos dos nomes, proibi
Mas ainda me sentam ao colo, como filho ilegítimo
As bolsas de plástico, o rio azul, o vizinho ao lado dança bolero
Um assunto encerrado sem alongar as vistas já tão exaustas de esperas
Desperto do meu amor sob a chuva na calçada, os biquínis nas ruas mais profundas
Os supermercados apostam nos dias mais quentes
Vendem amores frescos em compotas,
um vinho amigo,
O meu amor é lânguido e desnecessário
Eu falei das coisas concretas, mas não minto, fiz uma estatueta cimentada com frisos dourados e carmim
Eu olho para ela, e ela olha para mim,
Por hoje é o que me basta para fugir às incertezas
Por hoje é o que basta de nós


Charles Burck










Dizia-me uma boa companheira de madrugada
Salve-nos Deus, pois a poesia traz-nos boas companhia e imensas porcarias
Faltam-me argumentos para contradize-la
Quando a moça lua chega com o seu véu de viúva
O meu cão tenta ligar o céu de estrelas,
A Gata Corisca fecha as cortinas teme o céu e as coisas que piscam
Nos meus braços tatuados, escrevi um poema, à uma amiga que sofre
 Pagaram-na com mágoas e desassossegos quando o contexto era de amor e paixão
Dou-te como conforto uma estrela nuns céus de tantas pragas, volta-me à mente os ditos da minha amiga das madrugadas
Haja poemas para secar, purificar, desinfetar, as noites dos que destilam tantas dores

Charles Burck





Vem que Marte inventa poemas loucos
Na lua da tua cabeça a borboleta quer um corte amis ousado,
Eu queria te dizer algo que não saibas sobre nós
O pássaro de terno e gravata borboleta bate cabeça nos mundos dos sonhos
Eu queria dizer algo inventado que parecesse verdade
Mas no fundo tudo é tão raso,
E nós tão profundos
Desapareceu a janela, depois uma porta, a cabeça de gado com chifres de fogo
O azul turquesa festeja o verde, mas mastigado pelo Minotauro
Eu queria te dizer algo raro, um pedaço do melhor de mim
Mas estou sem a lança de Poseidon e os teus cabelos no meu rosto me tiram do sério
Há algum mistério em nós, e hoje descubro,
Te descubro dos véus das místicas jornadas pelos riachos celtas
Como o fogo de dentro da pedra de runa
O incenso de acender a noite
Queria parar esse poema agora,
E te dizer coisas raras, mas nos tempos do faz de conta já vivemos tudo
Que tal vivermos as coisas comuns?
Mas eu sou só um escrito de poemas, sem lastros, sem dinheiro e sem glórias
Sem a palavra certa que tento te dizer,
Então me calo para ver se te digo tudo

Charles Burck





Se olhares dentro dos meus olhos não leras a minha alma, ela não vive nos olhos
Ela vive solta
Quando eu cheguei não encontrei nada,
Não escrevi a minha história agora, mas o meu corpo de agora não é a pátria onde eu habitava outrora
A casa dança, as redes de pescas balançam mais onde nada se espera,
Eu sou os peixes, o arpão e a dor,
O alimento e processo de anular o tempo
Olho o horizonte, a cada dia pintado de uma cor
Da minha varanda aprendi muito, mas nada levo
Habita a minha alma uma casa agora, uma casa que mora, em qualquer lugar


Charles Burck