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quinta-feira, 21 de março de 2019


As mulheres pareciam ter os mesmos rostos,
Todas irmãs de um poema,
As mãos dispostas num aceno e o sentido de que tudo é comum,
Mas comum é a ausência medida sob a pele
A falta que faz um epilogo a adiar o término
Redemoinho sem vento, ilações que as emoções nasceram agora
Mas faz tempo que observo os rostos,
Os elementos do tempo dispostos em teus olhos
Como se tudo estivesse parado, à espera do choro


Charles Burck




peter fronth
Assombram-me os dias mais largos, boca imensa de sorriso sincero,
O arco de sol transcreve sobre os cabelos das mulheres, diademas de luzes
Há matérias de ausências à mercê do verbo
A luminosidade que atravessa os olhos e visita as sombras
E resgata a pureza da alma aprisionada numa cidade pequena, 
E há o mundo e os seus excessos,
Mas o gato me lambe os pés e o mundo cresce
E sábado, e o mundo é outro
E o calabouço fechou as portas, e o amor corre solto,
Solte as rédeas e há momentos tão maiores do que nós,
E me calo, sem coragem de pedir alguma coisa além
Charles Burck
John Lovertzol

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Somos esse pecado, somos divididos meio a meio
Um tempo no meio
Os olhos cegos não se importam de estarem fechados,
A teias e tramas iridescentes dos cavaleiros do apocalipse informam os boletins do clima
Meu gato escaldado, minha rede adormecida, 
Tudo nos esperando à mesa,
Um outro mundo estranho passou a juntar-se a mim,
Larguei a sensualidade até encontrar as tuas costas,
Algumas noites morrem mais devagar, em outras as estrelas permanecem por todos os dias acesas, independentes da escuridão
Como se vivessem avisando que perderam a memória do céu,
O calor e frio em partes iguais,
Somos isso
Como se tivéssemos perdido um meio pedaço de cada um
A memória necessária para nos mantermos em movimento
O imenso olho azulado do mundo pregando peças
Mudando os horários de tudo, subvertendo nossas pressas, vou almoçar mais uma noite sozinho, e conversar com as estrelas e as corujas ao meio dia
A ti uma noite boa, ainda que em meus olhos seja dia
E um dia sereno a ti, enquanto durmo

Charles Burck

Afifa Aleiby

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019


No segredo de um olhar
Bebo toda a a capacidade de suportar o teu silêncio
Lamentavelmente, admito que nada me seja suficiente
Quando a alma quer a voz esculpida
E a ela se tenha perdido pelo caminho
A frequência do vazio nos capitula,
E o vício do ópio vaza do umbigo,
Fica o disco riscado como coisa em decomposição, repetindo
O que não queremos saber,
Manter a cabeça fora d’água num dia de primavera e chuva
É como acordamos todos os dias para a morte,
A roupa apodrecendo no varal
Com cheio de coisa morta
E anúncios de que o mundo terminou ontem


Charles Burck




Não peçam aos passarinhos que adormeçam para silenciar os seus cantos,
Eles cantam antes do amanhecer e depois de chegada a morte
E não entanto não se entristecem por saber que o céu adorme cedo,
Na paz de cada um, o melhor de cada ser.

Charles Burck



terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O outono guardará as folhas lilases novas e sementes adormecidas para o próximo ano
E os pássaros cantarão adiantados os sons vindouros
Retirando as mordaças dos homens e curando as meninas mutiladas,
E as primaveras estarão sarada
E flores feridas, sem cicatrizes, 
E as tribos do sol brincarão na chuva e darão asilo aos velhos sonhos
E colo às velhas senhoras
E os catadores de silêncios dirão, bem vinda as tuas vozes
E nascerão estrelas onde a noite semeava solidão
E leitos de linhos e sedas, onde os estéreis verões indicavam aos amantes as estações de esperas no meio do nada.
Charles Burck.

patrick gonzales

Pensava eu que podia tudo beber para que a sede não viesse se postar à minha porta,
Sou um ser estranho, mas amo ao meu jeito entocado,
E fecho a porta, depois apago a luz e olho em baixo da cama, e no meio do escuro a inocência de olhos grandes a boca assustada, me mira perdida na noite
Como se tivesse cheirado a verdade dos homens
E acordado num mundo sem sonhos
As crianças desenharam o sol no chão e os gigantes pisaram, e cuspiram e apagaram os desenhos infantis,
A moça de blusa rosa cobriu o rosto com mascara e mordeu a maçã mais vermelha e adotou um anjo para nutrir os seus desejos mais sádicos,
Somos todos dotados de lâminas, garras e dentes caninos,
A venda nos olhos e os sexos expostos na feira de rua,
A sede nos bebe e a fome nos come, e comemos e bebemos uns aos outros,
A minha memória havia um tempo de esquecimento, mas o chip queimou e assisto tudo impassível, da janela da sala cujo fecho emperrou

Charles Burck