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sexta-feira, 5 de abril de 2019



Apaguem o dia, porque à noite queremos gozar
Defino esses olhos todos, famintos como os de um cão sem dono
A lamber a escuridão com o olfato no sentido do prazer dos toques,
E eu só sei da boca aberta a devorar cada capricho meu
Há no sonho duas mulheres e um homem no meio
Via nas cartas, flores nascendo aos seus pés
Três generosos loucos fascinados sentam-se lado a lado
E tratam os assuntos mal resolvidos pelas vias de fato,
Com as borrachas nas mãos apagam os mal ditos
Escrevem nos lençóis coisas tão descabidas, quanto poemas
Medem os impulsos, o ritmo e as excitações. Os estímulos transcendentes aos sentidos compõem um palco ilimitado e fértil
O que salta do coração, vaza na língua e abrem-se as defesas,
Por certos, desacatos se experimentam, de olhos fechados
Não desejam conselhos
Os três numa união mais que perfeita,
Onde o amor se cala e não mete o bedelho


Charles Burck 






                                                                       As borboletas


E se eu e ela tivéssemos vidas como as borboletas eu voaria com ela, por sobre os mares que cantamos em poemas,
e se eu pudesse escolher, abriria mão dos ventos, para viver eternidades pousado no peito dela
E borboleta não seria mais, porque as minhas asas atrofiariam,
e se pudesse escolher ainda mais onde morrer, abrira mão do mar, porque deitado sobre ela eu teria os mares todos,
e as vidas todas para ouvi-la marear os mares que deixei
E seria eu apenas felicidade a formar redemoinhos, mansos à volta dela
E se as borboletas soubessem de nós viriam também abrir mãos dos voos,
E pousariam sobre o peito dela
E saberiam todas como é, estando sobre o amor, amar


                                                                      Charles Burck